à janela me esqueço de mim
e fico a ver o mundo passar.
respiro só às vezes e devagar
para não aumentar a concentração
de dióxido de carbono no ar...
à janela me esqueço de ti
e dos mundos e dos outros que te inventei.
fico assim grávida de imobilidade
atenta ou alheia à realidade
(ninguém vê, ninguêm sabe...)
à janela estendo, em silêncio,
rios de vozes das multidões interiores.
à janela me concentro e me disperso,
perco-me nos rostos e nas cores,
nas esquinas dos olhares e arredores...
à janela me transformo, me transfaço, me transcedo:
peça a peça, sangue e sede,
pedra a pedra, desejo e pele,
passo a passo, osso e dor.
Quadro: Person at the window by Salvador Dali
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