31 outubro, 2006

permanentemente em busca ou a destilação da beleza nos constituintes essenciais



uma certa cor na luz de fim de tarde,


o aroma da chuva na terra,


o rodopiar das folhas com o vento,


o ar de repente frio na cara,


o olhar grávido de compreensão de um desconhecido,


o silêncio,


o reflexo do céu num rio, num lago, numa poça de água,


a sensação táctil do tronco de uma árvore velha,
como se ao toque se transferisse uma mensagem indecifrável,
um segredo feito de tempo e de estar.




há dias em que sou consciente de ser parte desse cenário maior onde a vida se desenrola (umas vezes governada pela termodinâmica, outras vezes limitada pela cinética, umas vezes aparentemente previsível, outras vezes descrevendo inesperados desvios e desafiando à invenção de novas energias de estabilização)
há dias em que simplesmente respirar aproxima, ou distancia… porquê? não sei…
descobriria talvez se pudesse decifrar todo este discurso vibracional que nos envolve, em que inevitavelmente conjugamos, dia após dia, o verbo ser (com mais ou menos convicção).
uma qualquer flor florindo não consegue senão ser. nela reconheceremos facilmente uma beleza intrínseca… natural. já entre gentes (entes, entes…) é fácil cair na tentação de a não reconhecer ou de a confundir com o que os olhos podem ver, quando a beleza é, tão simplesmente, a simultaneidade de verdade e benignidade no mesmo ente (gente, gente…). e por isso à partida todos têm em si a essência da beleza, que será tão mais perceptível à "vista" desarmada quanto mais fiel se for à verdade interior. difícil?… (também) aliciante! (com certeza)




19 outubro, 2006

f r A G I L










"eu quE já fUi

do pequEno alMoço à louCura"

(Adília Lopes)






imagem retirada daqui



17 outubro, 2006

"qui m'aime me suive"

sem querer encontrei o comentário a um filme francês: “Qui M'Aime Me Suive”, no blog: http://cinerama.blogs.sapo.pt/ que fez para mim todo o sentido, o comentário em si, não o filme, porque esse não vi (nem podia ter visto). fica aqui a fazer sentido...


"É sobre encontrar um sentido para a nossa vida, mesmo que isso implique dar uns passos atrás. Não se trata de fugir às responsabilidades, mas de assumir um novo conjunto delas e todas as consequências da mudança, e todas as mudanças consequentes. Escolher implica sempre deixar de lado um conjunto enorme de alternativas. Não escolher implica exactamente o mesmo. E só há um momento em que é demasiado tarde para mudar: exactamente aquele momento em que tudo muda."


o sentido... é isso que faz sentido procurar






10 outubro, 2006

subsentidos



os preâmbulos da memória
que num fim de tarde se demora
a desistir ou a esquecer…
dispersam-me nas mãos as cinzas
dos rituais sempre repetidos
em busca de subentendidos sentidos.

podia dizer-te de formas complicadas,
todas as palavras que mantenho caladas,
se tu as quisesses guardar
se fizesse sentido dispersar-me na tua direcção
(à velocidade do som)



quando posso ficar apenas
aparentemente parada ainda,
sempre crente numa qualquer espécie
de linguagem subversiva, subsistente,
subscrita, subpolar,
sub-reptícia, subcutânea,
submersa, sublime, subliminar,
sublinear, sublimável,
subentendida,
subtáctil, subtangível,
subpensada, subsentida…
será que sentes quando subenvio
silenciosas mensagens vibracionais…
através do ar, através da luz,
através do tempo?




imagem encontrada aqui


08 outubro, 2006

in the mood...



















uma viagem pelo mundo das sensações e emoções secretas das personagens...
personagens grávidas da sua própria história indecifrável...
um filme feito de silêncios, e distâncias,
amor e renúncia



(mais ninguém faz filmes assim)














































... for love

de wong kar wai




03 outubro, 2006

between darkness and wonder





entre a sanidade e a loucura



entre a vertigem e a esperança



entre a verdade e a mentira



entre o medo e a coragem



entre a paixão e a inércia



entre o desespero e a paz












o equilíbrio instável
na fronteira entre os países de nós...
quem se atreve a saltar?
quem se atreve a ficar imóvel perante o precipício?
quem se atreve a ignorar?
quem se atreve a recomeçar?
danço sobre as fronteiras.
sorrio na cara do espanto.
salto e sou a própria queda.
inspiro a preto e branco.


talvez as asas se lembrem ainda de voar...
ou a meio do voo se esqueçam
e numa nuvem ambígua me adormeçam


(subtraindo a dúvida à certeza,
dividindo a matriz da emoção
pelas raízes dos países subsistentes,
convertendo as mentiras em verdades
através de operações elementares,
decompondo a razão em mil factores,
reduzindo aos comuns mínimos múltiplos os amores)






imagem retirada daqui

02 outubro, 2006

"Dreams of a journey"




esta semana descobri em casa a banda sonora do filme "O Piano" e como não sabia que a tinha foi como receber um presente. é estranho como uma descoberta aparentemente tão insignificante me deixou tão feliz. Vi o filme nas férias e fiquei rendida à música, às personagens, ao filme (cada vez gosto mais de filmes com poucas palavras... e musicas acertadas nos devidos momentos...)
mas esta sensação de, ao ouvir uma determinada música, ter recebido esse momento de presente, faz-me pensar que se calhar oferecemos (e recebemos) de presente mais coisas do que momentos... dar tempo, partilhar momentos de qualidade, simplesmente estar... são talvez presentes muito melhores do que os objectos espaçosos e vazios de sentido, tantas vezes comprados à pressa, com que nos desembaraçamos da obrigação de oferecer algo a alguém...
claro que oferecer momentos dá mais trabalho, ocupa mais tempo, e nós hoje nunca temos tempo...



imagem encontrada aqui