31 março, 2011

Haikus - Tentativa 1


na multidão de anónimos
caminhar.
silêncio.




no muro dos dias
tricotar janelas,
ver.




tempo de dar.
tempo de parar.
(in)decisão.




entra pela porta fechada.
a verdade nos gestos, o silêncio na boca.
a beleza.




ruído de passos.
ninguém.
a memória.


22 março, 2011

memória II


pela noite adentro.
o relógio a morder-me os calcanhares.
lentamente.


memória


à volta, à volta, à volta de um trabalho sobre memória...
parece que me tenho esquecido.


21 março, 2011

The National - England (Live Directors Cut)




repetidamente, por tempo indeterminado (acho que me estou a repetir)


The National - Runaway (Live Directors Cut)




estou viciada. posso ouvir The National todos os dias, as mesmas músicas, repetidamente, por tempo indeterminado.


20 março, 2011

dar... ou dar-se


dar sem querer nada em troca... é difícil? muito. mesmo quando nos convencemos de que somos desinteressados, muitas vezes esperamos uma retribuição, um reconhecimento, talvez apenas um obrigado bastasse, mas nada, nada de nada (mesmo nada) é difícil de digerir.

quanto mais não seja, dar dá, muitas vezes, alguma satisfação interior... mas dar pelo bem do outro e não para nos sentirmos melhores pessoas... dar a quem nos irrita, dar a quem nos tira (a paz e paciência), dar a quem nos incomoda... é difícil? muito.

e quando digo dar... não quero dizer necessariamente dar alguma coisa material, às vezes quero dizer dar-se. é difícil? muito, mas só o facto de estarmos atentos faz-nos encontrar muitas oportunidades de dar... oportunidades que temos todos os dias e que por distracção ou preguiça desperdiçamos.


15 março, 2011

é só isto?


Não gosto de improvisar, gosto de me preparar, não gosto de me sentir sem chão, gosto de controlar, gosto de saber a resposta certa antes de ouvir a pergunta... mas, às vezes, tanta segurança sabe-me a pouco.
Às vezes, pergunto-me: é só isto? Deve haver alguma coisa lá fora pela qual valha a pena arriscar, alguma coisa pela qual valha a pena lutar, alguma coisa que ultrapasse a banalidade dos dias, alguma coisa na qual o coração se reconheça. Deve haver.



09 março, 2011

(in)versão


quando não te vejo é que não te esqueço,
quando não me falas é que não me calo,
quando não me tocas é que te desejo,
e neste desencontro nada te subtrai,
só se multiplica a tua longa ausência.

quanto mais analiso a raiz do questão
mais me confundo e mais me convenço
da ausência de ciência nesta (in)consciência.

quanto mais verifico a insolução
mais me critico e mais me disperso,
mais te encontro e mais me afasto da razão.

esta (in)consciência ignora as leis da física
e da matemática e da linguagem e da gestão
e outras que tais...

mas eu não.

se a (in)consciência ignora todas as leis
eu ignoro a (in)consciência e outras que tais
e da tua presença me subtraio:

se te vejo mais depressa esqueço,
se me falas eu não te respondo,
e se me tocas não te quero mais.



06 março, 2011

2+2=5


na música, como na vida, é essencial ser generoso.
tudo aquilo que se dá de forma desprendida, despretensiosa, sincera e alegre é sempre melhor do que aquilo que pensamos que tínhamos para dar.
a música, como a vida, é feita de relações, onde, às vezes, se observa inesperadamente que o resultado final é superior à soma das partes: afinal sempre há lugares onde 2+2=5. E podiam ser muitos mais...

hoje, ou melhor, ontem, foi um prazer encher de música e vozes e vida o palacete pinto leite, hoje esvaziado dos móveis, dos instrumentos, dos professores e alunos do conservatório de música, mas não esvaziado da sua identidade, ou, por que não, da sua personalidade. porque há casas que absorvem e reflectem a história e as estórias que as habitaram, ecos de um passado que se projectam no presente, que nos contaminam e nos inspiram a fazer melhor. [somos duração e temos dentro de nós todos os tempos: o que já fomos, o que hoje somos e o que seremos.]