21 junho, 2008

liberdade




ser gratuito nas relações é tão difícil... ser desinteressado, ou abnegado, dar sem esperar, nem exigir receber. é uma luta interior terrível às vezes. é um pequeno milagre quando acontece naturalmente e sem doer. é uma meta e são pequenas conquistas. é uma luta da qual vale a pena não desistir, porque um só momento de sucesso é imensamente compensador.

quanto serei eu capaz de dar de mim sem pedir nada em troca? há dias em que esta luta me dói até à alma (que é onde as coisas difíceis doem). há dias em que só desejar ser assim já é uma vitória. há dias em que só de tocar ao de leve nessa promessa de liberdade, e senti-la ganhar corpo, dá sentido a todos os fracassos, a todos os desânimos e faz desejar ir mais longe (ou ir mais fundo).







mais uma fotografia do jardim cá de casa


12 junho, 2008

Coldplay - Violet Hill

estão de volta...




parece que tiveram que desenterrar este novo album, sujaram-se (como se vê e como se ouve), arriscaram, e fica-lhes bem. não tiveram medo de se descolar da imagem que criaram. estive a ouvir o novo disco no myspace. recomendo. gostei de descobrir o vocalista num registo mais grave que o habitual (na música Yes, por exemplo). às vezes parece mais clara a influência dos radiohead (na música 42, por exemplo), mas de forma construtiva, como mais um passo para construir uma música dos coldplay; até porque a voz do chris tem identidade própria, tem luz própria. é uma agradável surpresa descobrir músicas que se desmultiplicam e mostram novas faces a cada virar de esquina, como se uma música fosse várias (como Cemeteries of London, 42, Yes e Death and all his friends). e o que dizer deste início de Lost: "just because I'm loosing doesn't mean I'm lost"? soa a desafio, soa a rebeldia, eu diria que define a intenção, mesmo que fosse para perder, este era o risco que tinham que correr...
Gosto bastante da cor que os instrumentos de corda trazem para Yes e Viva la vida. Mas Viva la vida é muito mais do que essa ambiência, é a afirmação de um risco que valeu a pena correrem, é a batida do coração nos novos coldplay, sintam-lhes a pulsação. A mesma pulsação que se ouve em Violet Hill. No fim não se vão embora sem respirar fundo ao som de Strawberry Swing que já está longe da terra de Violet Hill, já é outro lugar, ou talvez seja um caminho, um caminho para chegar a Death and all his friends. e não se pense que Death and all his friends soa a fim, não, soa a princípio: boa viagem!


01 junho, 2008

My blueberry nights


um filme de Wong Kar-Wai

















































































































qual é a distância entre duas pessoas? quanto tempo é a distância entre duas pessoas? quanto quanto tempo se demora a atravessar a perda? quanto tempo se demora a atravessar o tempo?

há muito tempo que não via um filme em que o tempo é uma das personagens. em que as coisas tem tempo para acontecer; em que as personagens tem tempo para falar e para calar, para perder e para se perderem; em que para encontrar não é preciso procurar é preciso desistir.

o que nos tira o sono? o que nos tira o chão? e quando isso acontece qual a distância que temos que percorrer? qual a largura desta estrada? quantos passos tem? quantos quilómetros? quantas pessoas? quanto tempo? o tempo entre estar e encontrar. pode ser um passo. pode ser um ano. pode não ser.





















If Love Were All - Rufus Wainwright

probabilidades


Era uma vez um homem extremamente organizado. Tudo nos seus dias acontecia segundo uma sequência estritamente planeada, a horas exactas e com durações precisas.
Esse homem tinha um amigo. O amigo era um homem muitíssimo desorganizado. Deixava-se sempre guiar pelo acaso, pelo inesperado. Era imprevisível, até para si próprio, o que iria fazer a seguir, ou onde iria estar.
Era para todos um mistério como é que estes dois homens se tinham encontrado. Era um mistério ainda maior como é que eles se continuavam a encontrar.
Se os encontros destes homens eram resultado da imponderabilidade de um, ou da constância do outro, (ou de uma terceira instância) ninguém sabia ao certo, mas, o facto, é que os encontros aconteciam, se repetiam, contrariando todas as probabilidades.