este tem sido um período de ausências.
ausência de pessoas, ausência de velhos hábitos, ausência de horários normais, ausência de saídas descontraídas e informais, ausência de conversas infindáveis, ausência de encontros, de desencontros, ausência de tarefas manuais. hoje caminhar ou limpar a casa tornaram-se tarefas oasis. um prazer para as mãos e um alívio para a mente. hoje saio ao fim da tarde para fotografar flores do jardim e dou-me conta das diferenças de um dia para o outro. a vida não pára. se do lado de cá a vida parece estar imóvel há meses numa secretária com um computador ao centro rodeado de papeis, do lado de lá da porta, a vida não pára, as flores crescem e murcham a uma velocidade alucinante e assim os outros e assim eu própria, assim as minhas células nascem e morrem diante dos meus olhos. quando finalmente me disserem: podes sair acho que nem me vou mexer. ficar a ouvir o ruído do mundo e não responder e nem mexer um músculo, não fazer nada. ou então dormir: esperar pelo fim de todos os sonhos que não tenho sonhado para acordar. e como durante o sono o não há tempo vou acordar no instante seguinte, levantar-me ligar o computador, esperar pelo meu habitat natural, digo, pelo meu ambiente de trabalho, abrir as pastas sucessivamente: documentos, fac, mestrado, tese, cap9-conclusão e perceber que já acabei e que não tenho nada a fazer ali, nem em lugar nenhum, nem nesse dia, nem no outro, porque todos os dias estarão em branco, indefinidos, informes, selvagens, prontos a ferir-me até ao osso com a sua beleza de marfim intocável, com a sua abundância de horas livres e moles. dias de miragem e precipício. dias que me lançam do futuro o seu aroma de risco e vertigem. por eles sigo às cegas tacteando no escuro à procura da saída de emergência, da tecla on/off, da opção log out, da palavra FIM no fim da página.
ausência de pessoas, ausência de velhos hábitos, ausência de horários normais, ausência de saídas descontraídas e informais, ausência de conversas infindáveis, ausência de encontros, de desencontros, ausência de tarefas manuais. hoje caminhar ou limpar a casa tornaram-se tarefas oasis. um prazer para as mãos e um alívio para a mente. hoje saio ao fim da tarde para fotografar flores do jardim e dou-me conta das diferenças de um dia para o outro. a vida não pára. se do lado de cá a vida parece estar imóvel há meses numa secretária com um computador ao centro rodeado de papeis, do lado de lá da porta, a vida não pára, as flores crescem e murcham a uma velocidade alucinante e assim os outros e assim eu própria, assim as minhas células nascem e morrem diante dos meus olhos. quando finalmente me disserem: podes sair acho que nem me vou mexer. ficar a ouvir o ruído do mundo e não responder e nem mexer um músculo, não fazer nada. ou então dormir: esperar pelo fim de todos os sonhos que não tenho sonhado para acordar. e como durante o sono o não há tempo vou acordar no instante seguinte, levantar-me ligar o computador, esperar pelo meu habitat natural, digo, pelo meu ambiente de trabalho, abrir as pastas sucessivamente: documentos, fac, mestrado, tese, cap9-conclusão e perceber que já acabei e que não tenho nada a fazer ali, nem em lugar nenhum, nem nesse dia, nem no outro, porque todos os dias estarão em branco, indefinidos, informes, selvagens, prontos a ferir-me até ao osso com a sua beleza de marfim intocável, com a sua abundância de horas livres e moles. dias de miragem e precipício. dias que me lançam do futuro o seu aroma de risco e vertigem. por eles sigo às cegas tacteando no escuro à procura da saída de emergência, da tecla on/off, da opção log out, da palavra FIM no fim da página.
FIM
(fotografia tirada no jardim cá de casa no dia 1 de maio de 2008)
2 comentários:
Todos os dias estarão em branco, indefinidos e essas coisas mais se não maracres coisas com osamigos, oh taralhoca!!!
Fico à espera!
Beijinhos!
gosto muito da fotografia, faz-me lembrar o filme "spiderwick"...ánimo! e já sabes que podes sempre vir cá passar o tempo livre :-)
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