04 dezembro, 2012

(des)encanto


como se fosse de vidro
partiu-se em silêncio na tua voz
e escorreu-me sobre as mãos,
líquido, impossível de deter.
ninguém o ouviu senão eu.

ou imaginei
nas vibrações mais subtis,
nas minúsculas bifurcações de sentido,
nas alterações microtonais da sonoridade de certas palavras.
talvez nunca tas tivesse ouvido antes
para poder analisar com precisão.
talvez tenha sido apenas um erro fortuito de audiação.

e, qual cristal-líquido suspenso sobre a esquina das horas,
frágil, desafi(n)ando a queda,
a tua voz
permaneça intacta.
tão simplesmente ilegível
como sempre foi.

ou a pena de não saber de cor todas cores da tua voz.



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