just stop and listen
23 maio, 2008
19 maio, 2008
eu que não tenho nome
E assim, de mim me sinto ausente,
por mais que te tente fechar janelas
à imaginação. escapa-se-me com a corrente
pelas frestas do corpo, recusa
a prisão domiciliária dos sentidos,
esvazia-se como se na distância estivesse mais perto
e na alteridade se encontrasse semelhante.
devo ter perdido algures o sentido do risco
que protege quem tem medo de se perder.
como alguém que perante o abismo
sentindo atracção e medo
se tenha traído numa hesitação,
um instante apenas, e ao regressar
tenha perdido e ao perder
tenha trazido
à flor dos lábios
o sabor prometido pela vertigem.
09 maio, 2008
06 maio, 2008
Princípio
este tem sido um período de ausências.
ausência de pessoas, ausência de velhos hábitos, ausência de horários normais, ausência de saídas descontraídas e informais, ausência de conversas infindáveis, ausência de encontros, de desencontros, ausência de tarefas manuais. hoje caminhar ou limpar a casa tornaram-se tarefas oasis. um prazer para as mãos e um alívio para a mente. hoje saio ao fim da tarde para fotografar flores do jardim e dou-me conta das diferenças de um dia para o outro. a vida não pára. se do lado de cá a vida parece estar imóvel há meses numa secretária com um computador ao centro rodeado de papeis, do lado de lá da porta, a vida não pára, as flores crescem e murcham a uma velocidade alucinante e assim os outros e assim eu própria, assim as minhas células nascem e morrem diante dos meus olhos. quando finalmente me disserem: podes sair acho que nem me vou mexer. ficar a ouvir o ruído do mundo e não responder e nem mexer um músculo, não fazer nada. ou então dormir: esperar pelo fim de todos os sonhos que não tenho sonhado para acordar. e como durante o sono o não há tempo vou acordar no instante seguinte, levantar-me ligar o computador, esperar pelo meu habitat natural, digo, pelo meu ambiente de trabalho, abrir as pastas sucessivamente: documentos, fac, mestrado, tese, cap9-conclusão e perceber que já acabei e que não tenho nada a fazer ali, nem em lugar nenhum, nem nesse dia, nem no outro, porque todos os dias estarão em branco, indefinidos, informes, selvagens, prontos a ferir-me até ao osso com a sua beleza de marfim intocável, com a sua abundância de horas livres e moles. dias de miragem e precipício. dias que me lançam do futuro o seu aroma de risco e vertigem. por eles sigo às cegas tacteando no escuro à procura da saída de emergência, da tecla on/off, da opção log out, da palavra FIM no fim da página.
ausência de pessoas, ausência de velhos hábitos, ausência de horários normais, ausência de saídas descontraídas e informais, ausência de conversas infindáveis, ausência de encontros, de desencontros, ausência de tarefas manuais. hoje caminhar ou limpar a casa tornaram-se tarefas oasis. um prazer para as mãos e um alívio para a mente. hoje saio ao fim da tarde para fotografar flores do jardim e dou-me conta das diferenças de um dia para o outro. a vida não pára. se do lado de cá a vida parece estar imóvel há meses numa secretária com um computador ao centro rodeado de papeis, do lado de lá da porta, a vida não pára, as flores crescem e murcham a uma velocidade alucinante e assim os outros e assim eu própria, assim as minhas células nascem e morrem diante dos meus olhos. quando finalmente me disserem: podes sair acho que nem me vou mexer. ficar a ouvir o ruído do mundo e não responder e nem mexer um músculo, não fazer nada. ou então dormir: esperar pelo fim de todos os sonhos que não tenho sonhado para acordar. e como durante o sono o não há tempo vou acordar no instante seguinte, levantar-me ligar o computador, esperar pelo meu habitat natural, digo, pelo meu ambiente de trabalho, abrir as pastas sucessivamente: documentos, fac, mestrado, tese, cap9-conclusão e perceber que já acabei e que não tenho nada a fazer ali, nem em lugar nenhum, nem nesse dia, nem no outro, porque todos os dias estarão em branco, indefinidos, informes, selvagens, prontos a ferir-me até ao osso com a sua beleza de marfim intocável, com a sua abundância de horas livres e moles. dias de miragem e precipício. dias que me lançam do futuro o seu aroma de risco e vertigem. por eles sigo às cegas tacteando no escuro à procura da saída de emergência, da tecla on/off, da opção log out, da palavra FIM no fim da página.
FIM
(fotografia tirada no jardim cá de casa no dia 1 de maio de 2008)
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