27 março, 2006

10:10 (take 2)

... (o computador bloqueou... serei capaz de repetir o que já tinha escrito?) ... (estas reticências são diferentes das primeiras, sou eu a respirar fundo, enquanto ainda consigo)

hoje liguei o computador as 10:10 (antes dele bloquear) e lembrei-me: "tenho um blog" que é uma associação mental como qualquer outra. no entanto é provável que se sigam a esta outras (associações mentais) mais estranhas e improváveis... o empregado do bar enganou-se e serviu-me meia de leite de café e eu não tive coragem de reclamar (há dias em que consigo ser mais implacável, um bocadinho, o suficiente, mas hoje parece que não). o máximo que consegui de mim foi um hesitação quando perguntou com a chávena na mão, ou talvez a chávena suspensa no ar, insuflada da vida própria que eu lhe adivinhava... seja como for, ele perguntou: "meia de leite" (e neste caso as palavras carregavam dentro de si a interrogação, não precisam de prefixos ou sufixos ou pontos de interrogação) e quando me olhou, com olhar interrogativo, não tive coragem de o desiludir e disse baixinho (com esperança de que não me ouvisse, porque à segunda-feira de manhã talvez não ouvisse tão bem como nos outros dias): "sim, é para mim" (não sei se foi bem isso que disse, mas foi, pelo menos, essa a intenção). caminhei pois em direcção à mesa carregando a pesada chávena... o café a pesar-me nos ombros, ou a mochila, talvez a mochila. na minha frente estavam as fotografias de uma festa qualquer da faculdade. tentei distrair-me mas o café ali e eu já nervosa antes de o beber. pensei então: "talvez não seja assim tão mau, hoje preciso de me concentrar e estudar, bebo só metade e não digo a ninguém", porque se dissesse talvez alguém em pânico me prendesse e amordaçasse e vendasse e fechasse numa sala à espera que o efeito passasse ou que eu me calasse o que na prática é a mesma coisa, ou corresponde ao mesmo instante, ou talvez não, talvez exista algum desfasamento quase imperceptível, o tempo que demora o pensamento a ser verbalizado. talvez eu a meio de uma frase e de repente sem saber como continuá-la porque o pensamento ainda lá, cada vez mais difuso, mas as palavras a afastarem-se de mim, e eu embora correndo atrás delas, sempre perdendo alguma, porque elas não se comportam como um bando, não correm todas na mesma direcção, dispersam-se no ar como a água no vazio, afastando-se em todas as direcções como se não sentissem a gravidade. chega! (ou cheguei, cheguei ficaria igualmente bem, mas mais egocêntrico, fica chega) chega! (para reforçar a ideia) talvez seja essa a conclusão: as palavras não sentem gravidade alguma, nem a da terra nem aquela que podem transmitir (aquela que lhes permite deixar alguém preso ao chão, preso ao chão de um instante, preso em busca da reacção na não-reacção, preso no silêncio da gravidade do que as palavras transmitem com a leveza de quem não sente a gravidade que tem.

2 comentários:

Anónimo disse...

Realmente, minha cara...O que o café (ou meia chávena de café com leite...) te faz...lolol ;)

Daisy

A menina das bolinhas disse...

Como eu te percebo... agora alia a isso falta de ar