08 outubro, 2008

do tempo que demoro chegar a casa


nessas horas em que me sobram palavras
não te digo nenhuma,
antes cerro os dentes,
sustenho a respiração
e fico ali imóvel
perante o desenrolar invisível
desse fio, desse rio, desse mar de
palavras infindáveis e mudas
que não te direi.
fico ali como fonte inesgotável,
guardando a água para o lado de dentro
(até me constipar de desesperança):
não há palavras que me sirvam,
não há palavras que nos sirvam.
nada do que eu penso me pode explicar,
nada do que eu sinto te pode salvar,
onde eu sou tu já não estás,
onde tu és eu nunca estou.
às vezes porém,
regresso a casa com esse travo na boca
do deserto e da sombra
que trazes nos teus passos...
(porque não pressinto em ti nenhuma luz)
regresso a casa e demoro a chegar,
demoro a recuperar dessa dor
que não te larga,
dessa resignação, dessas cinzas,
dessa morte que te habita antes do tempo,
regresso a casa e demoro a deixar-te.

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