10 abril, 2006

Espera

há poucos poemas que sei de cor... este sei-o há anos. continua a ecoar em mim ao longo do tempo. há dias em que soa tão certo como o tic-tac do relógio com tudo o que há de inevitavél nele, e talvez por isso exista algo de paz nessa eterna angústia. a paz da inevitabilidade. a paz não da resignação, mas da aceitação daquilo que é, e daquilo que se é...

este poema recorda-me o principio da "viagem" que me levou à Póvoa e que me faz continuar por lá no seio de uma família nova. por isso aqui fica uma dedicatória a essas famílias que escolhemos e ajudamos a construir, essas famílias que no princípio são como vasos fora de casa e parecem tão desprotegidas, mas depois vão ganhando raizes e tornam-se outras casas fora de casa.


Espera

Horas, horas sem fim,
pesadas, fundas,
esperarei por ti
até que todas as coisas sejam mudas.

Até que uma pedra irrompa
e floresça.
Até que um pássaro me saia da garganta
e no silêncio desapareça.

Eugénio de Andrade

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