28 dezembro, 2006

transCE(n)DÊNCIAS




estico o olhar para tentar ver mais longe,
entro no silêncio como entra o frio nas casas: por uma qualquer fresta imperceptível,
relativizo este ou aquele encontro, o que já passou, o que não vai ser,
o sentimento que de cansaço se calou,
uma tristeza que já esqueceu porque chorou,
e tento perceber-me envolvida nesta rede de (des)encontros, nesta correria incessante da cidade dos homens...
(E se parar agora, será que se desviam a tempo ou me atropelam?)
se às vezes me sinto só arrastada pela corrente,
também sei, por esperança, que sentidos indecifráveis se revelam quando menos esperamos.
onde está então a felicidade? em acordar de manhã, em fazer o melhor possível, em abrir as janelas do coração aos outros e ao vento e ao frio se assim calhar, em recomeçar sempre, em desistir do que não é verdade, mas sim desejo desordenado, em ser fiel à verdade interior, em procurar sempre mais...
(e podia continuar indefinidamente…
e vou continuar com certeza, mas não aqui)






26 dezembro, 2006

re-inventando o horizonte



tudo o que não foi,
tudo o que sonhei,
mas não realizei,
tudo o que deixei
(e tudo o que me deixaste),
tudo o que não escolhi,
tudo o que não vivi,
tudo o que não me rasguei,
mas me assalta inesperadamente
quando o tempo se esquece de passar,
de tudo isso me liberto,
de todas essas memórias virtuais,
que inventei para mim,
(ou para nós)
e que me pré-ocupam internamente...
liberto-me de todo o desgaste inútil,
e deixo a cada dia o devido valor
e o proporcional trabalho,
não mais.
a cada dia o seu início
e o seu fim,
a cada dia uma esperança que não me pertencendo me atravessa,
a cada um o amor (e a dedicação) que não nascendo em mim, me ultrapassa.


























15 dezembro, 2006

hoje















o tempo passou.
lembro-me de ter entrado em casa em agosto...
volto a sair quase no natal.
volto a sair, volto a respirar, volto a ter tempo para não pensar, volto a dormir descansada.
saio de casa para as ruas iluminadas, para as pessoas apressadas com as prendas por comprar. saio com vontade de caminhar devagar, de não comprar nada que não seja essencial.
saio com vontade de procurar mais, e de fazer melhor.

a solidão escolhida, o silêncio com significado, a sensação de tarefa cumprida, tudo coisas que me fazem ver melhor hoje.
um destes dias quem sabe, serei até capaz de não falar se não tiver nada de bom e importante para dizer, de dizer que não sem me justificar, de olhar para os outros sem pré-conceitos ou falsas expectativas (como é dificil aceitar o outro como é, resistindo à tentação de o tentar mudar).
mas enquanto isso não acontece, acontece hoje. hoje escolho sorrir, hoje escolho agradecer, hoje escolho acreditar, hoje escolho confiar.
hoje volto a sair. o ar frio na cara. é de manhã!








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