eu sou aquela que arde
contra os relógios das horas.
e tu permaneces ao longo do frio
intocável, inabalável,
quase um desconhecido.
queria gritar-te,
rasgar-te essa quietude de lago
de águas escuras contra o branco
do muro.
queria morder o aroma
do teu pulso fechado,
mas não parece haver tempo
que nos faça existir.
tudo é fútil e vago.
tudo é triste e cansado.
dói-me a palavra desistir,
dói-me ainda mais insistir.
hoje não sei o que quero,
mas tenho dentro de mim
uma viagem que ainda não fiz
e esta ânsia de partir
e de chegar.
faço a minha casa no mundo,
encho os pés de pó
de tanto caminhar.
eu vivo de desejos tácteis
projectados contra a tua inércia
como num teatro de sombras chinesas.
posso ver o meu reflexo nos teus olhos
mas é uma ilusão pensar que estou lá.
se aproximar o meu braço do teu
estou quase certa de que vais desaparecer no ar.
não te sinto,
não te sei
e perco-me a cada passo
nesta direcção que nem sequer é a tua,
é só um sonho que eu inventei
e vejo em ti só o que de ti imaginei...
2 comentários:
Parabéns!
O poema está simplesmente espectacular!
Beijinhos.
é sempre um prazer visitar o teu blog. nele há sempre uma redescoberta feliz e um encontro com nós próprios. ousaria até dizer que aqui há um espelho, talvez de uma agua fresca e pura, serena; ainda que escondendo a sua superficie uma profundidade de algas, tesouros e perigos.
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