05 julho, 2006

o que me perco à janela...


arrumo tudo, mas não varro nada,
só o pó se desarruma pelo chão, pelos passos, pelos quadros, pelos vasos,...
cada instante uma fotografia do que fica por viver:
flores de mim à janela.
a janela aberta ainda
ou eu com preguiça de a fechar.
espero que chova o céu por mim.
ou que o vento leve as flores
(ou da flor da pele as dores)...
abandono ao ar tudo o que se gasta
e espero até se ver
os ossos e as cinzas do que não me esqueci de dizer:
memórias esquecidas do que me viste arder.

cada dia um novo fim para as histórias de sempre.
cada dia um novo renascer:
infinitas possibilidades de mudar de sentido,
de esquecer o nunca vivido e partir,
ou de infinitas vezes recomeçar...
no fundo do vaso resta o reflexo
do que não te ouvi sorrir,
do que não me viste voar.
visto a noite pelo lado errado
e vou errando pelos dias fora
até me re-encontrar.
construo castelos nas nuvens,
naturalmente,
(como quem cultiva ervas daninhas:
deixando nascer tudo o que vier,
o trigo, o joio, borboletas, andorinhas)
porque neles
a chuva chove rente ao chão,
as ameias rompem o azul onde o ar é mais puro,
e se fechar os olhos
e encostar ao ouvido as muralhas da imaginação,
posso ouvir aqui tão perto,
gargalhadas claras de água nas pedras.
do outro lado,
imenso,
o mar.








fotografia daqui

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