09 maio, 2006

O meu avô tem mãos
Que sabem de cor a cor da terra.
O meu avô tem orelhas grandes
Porque foram crescendo lentamente
A vida inteira
O meu avô sabe fazer crescer uma planta noutra planta,
Sabe o tempo de semear milho
E o tempo de apanhar batatas.
O meu avô conhece as casas e os campos
E o nome das pessoas que os habitam.
O meu avô conhece cada alguém
Pela árvore genealógica: todos são
Filhos do tio do primo de não sei quem.
O meu avô antecipa o tempo que vai fazer
No ano inteiro, pelo tempo que faz
Nos últimos dias de Dezembro e nos primeiros de Janeiro.
O meu avô quando diz ai, não diz ai,
Diz Aaaaaaaaaaaida, porque talvez um dia, não sei,
Alguma empregada chamada Aida...
O meu avô chega sempre cedo,
E vai sempre à missa à mesma hora.
O meu avô vai a concertos que não percebe muito bem,
(E senta-se ao meu lado)
Mesmo que as vezes esteja cansado demais.
O meu avô sabe que ramo da videira deixar
E que ramo da videira podar.
O meu avô conhece a voz de dor
E a voz de fome dos animais.
O meu avô sabe fazer vinho das uvas,
Leite das vacas, frutos da terra
E outras magias mais.
O meu avô...

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