29 maio, 2006

SÍSIFO

"Recomeça...
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças."

Miguel Torga, Diário XIII

1 comentário:

Anónimo disse...

Reparei agora neste poema, lembro-me de o ver citado em qualquer lado ("de nenhum fruto queiras só metade..") talvez num livro de portugues do secundario, por analogia à perseverança no estudo. O seu significado pelos vistos é tão maior que a ideia de que se deve estudar e apreender, julgo que o poema se tenta assemelhar ao trilho da vida, - volta-me a inevitavel nostalgia do esforço absurdo que ela implica -, pessoa dizia que estudar era nada e o tom cruise, que um homem não cumpre o seu destino, mas antes faz o que pode da sua vida até que ele (o destino) lhe seja revelado.