22 junho, 2011

esse lugar invisível que te habito sem saberes


gastei os meus passos a caminhar,
mas não cheguei a nenhum lugar.
devolvi o meu corpo à terra,
mas ela não o recebeu.
abri o meu flanco para dar de beber aos pássaros,
mas eles não se aproximaram.
voltei para casa, sozinha, sem ti,
mas haverá algum lugar onde tu não estejas?


Radiohead - Fake Plastic Trees



(nada a acrescentar)


18 junho, 2011

Distâncias


Há momentos em que estamos perto demais.
Às vezes a diferença mínima de alguns milímetros é o suficiente para ultrapassar a barreira da distância de segurança mínima garantida, uma linha invisível, quase, quase imperceptível.
Em cima da linha não é possível ficar. Ou se mergulha de cabeça. Ou se recua sem hesitar.
Acontece, às vezes, que o desejo quer avançar quando a razão quer recuar. Isto não torna mais difícil a decisão (para quem tem a certeza de quem é e do que quer para si). Às vezes queríamos poder acreditar na ilusão de que outra decisão é possível, mesmo quando sabemos que não é. Queríamos poder adiá-la quando no fundo ela esta tomada à partida.
O desejo ameaça sempre que vai dar luta, mas não se pode ceder à chantagem só para tentar manter uma paz aparente. Se a verdadeira paz quer ser (re)conquistada vamos à luta que o desejo tem mais garganta que poder. (Lutar faz bem. Aquece nas noites frias. Traz diversidade à banalidade dos dias. Fortalece os músculos interiores da renúncia e da vontade).


entrega


o que realmente me emociona são as pessoas.

pessoas com ganas de viver, orgânicas, de alma e carne e liberdade e desejo.
pessoas capazes de subir ao palco e dar tudo o que têm lá dentro, de bom e de frágil, de coragem e de medo, no fundo, tudo o que são.


14 junho, 2011

Caetano e Maria Gadú - O Quereres (Ao Vivo)



sabe bem ouvir cantar assim ao fim da tarde (ou a qualquer hora) em casa (ou em qualquer lugar). sabe a férias quando há ainda muito trabalho pela frente, mas apetece, de repente, fazer uma pausa para respirar. parar como quem tem todo o tempo p'ra parar, sem correr, parar só, mesmo, mesmo devagar (como um beijo devia ser: instante parado no tempo de quem não tem pressa de partir, nem de chegar).

eu estou descompassada com a vida,
a vida a correr e eu perdida,
não sei se atrasada ou diante da terra prometida
(sem a ver).
o desencontro às vezes sabe a despedida,
mas não me parece perdido o tempo que perdi
(e ainda perco)
a aprender a perder.

liberdade é coisa de difícil apetecência, menos de apetecer e mais de paciência.
às vezes apetece menos, de querer estar perto demais.
às vezes apetece mais, de querer voar p'ra bem longe, onde não se toca nem se vê.
às vezes parece de menos, de não haver espaço para se ser quem se é.
às vezes parece demais, de quase roçar a solidão.
há que estudar a arte da iluminância, menos de ânsia e mais luz (e de esperanc(i)a)
para aprender a ganhar até quando se fica a perder.



10 junho, 2011

o dia depois de ontem


este é o dia seguinte.
por isso convivem em mim dois sentimentos contrastantes. a satisfação pelo trabalho realizado. e um certo vazio, difícil de explicar... (saudades já de algo que terminou? ou a difícil tarefa de me re-equilibrar depois de ter exigido tanto de tudo, e de todos e de mim.)
às vezes penso que outra forma de viver e de trabalhar deve ser possível, eu é que ainda não a descobri, por isso gasto-me assim, na primeira pessoa do singular, no presente do indicativo. por isso às vezes o medo. porque entregar (me) assim é arriscado.
damos e recebemos, mas onde estamos? se estivermos só no que damos, arriscamos ficar sem nada? ou damos sem medo e em liberdade porque o fazemos a partir do centro, do núcleo duro daquilo que somos e daquilo em que acreditamos? e não tememos esvaziar-nos porque sabemos que o amor não se gasta nem se divide, antes se multiplica nas mãos de quem o dá.