28 dezembro, 2006

transCE(n)DÊNCIAS




estico o olhar para tentar ver mais longe,
entro no silêncio como entra o frio nas casas: por uma qualquer fresta imperceptível,
relativizo este ou aquele encontro, o que já passou, o que não vai ser,
o sentimento que de cansaço se calou,
uma tristeza que já esqueceu porque chorou,
e tento perceber-me envolvida nesta rede de (des)encontros, nesta correria incessante da cidade dos homens...
(E se parar agora, será que se desviam a tempo ou me atropelam?)
se às vezes me sinto só arrastada pela corrente,
também sei, por esperança, que sentidos indecifráveis se revelam quando menos esperamos.
onde está então a felicidade? em acordar de manhã, em fazer o melhor possível, em abrir as janelas do coração aos outros e ao vento e ao frio se assim calhar, em recomeçar sempre, em desistir do que não é verdade, mas sim desejo desordenado, em ser fiel à verdade interior, em procurar sempre mais...
(e podia continuar indefinidamente…
e vou continuar com certeza, mas não aqui)






26 dezembro, 2006

re-inventando o horizonte



tudo o que não foi,
tudo o que sonhei,
mas não realizei,
tudo o que deixei
(e tudo o que me deixaste),
tudo o que não escolhi,
tudo o que não vivi,
tudo o que não me rasguei,
mas me assalta inesperadamente
quando o tempo se esquece de passar,
de tudo isso me liberto,
de todas essas memórias virtuais,
que inventei para mim,
(ou para nós)
e que me pré-ocupam internamente...
liberto-me de todo o desgaste inútil,
e deixo a cada dia o devido valor
e o proporcional trabalho,
não mais.
a cada dia o seu início
e o seu fim,
a cada dia uma esperança que não me pertencendo me atravessa,
a cada um o amor (e a dedicação) que não nascendo em mim, me ultrapassa.


























15 dezembro, 2006

hoje















o tempo passou.
lembro-me de ter entrado em casa em agosto...
volto a sair quase no natal.
volto a sair, volto a respirar, volto a ter tempo para não pensar, volto a dormir descansada.
saio de casa para as ruas iluminadas, para as pessoas apressadas com as prendas por comprar. saio com vontade de caminhar devagar, de não comprar nada que não seja essencial.
saio com vontade de procurar mais, e de fazer melhor.

a solidão escolhida, o silêncio com significado, a sensação de tarefa cumprida, tudo coisas que me fazem ver melhor hoje.
um destes dias quem sabe, serei até capaz de não falar se não tiver nada de bom e importante para dizer, de dizer que não sem me justificar, de olhar para os outros sem pré-conceitos ou falsas expectativas (como é dificil aceitar o outro como é, resistindo à tentação de o tentar mudar).
mas enquanto isso não acontece, acontece hoje. hoje escolho sorrir, hoje escolho agradecer, hoje escolho acreditar, hoje escolho confiar.
hoje volto a sair. o ar frio na cara. é de manhã!








imagem encontrada aqui

31 outubro, 2006

permanentemente em busca ou a destilação da beleza nos constituintes essenciais



uma certa cor na luz de fim de tarde,


o aroma da chuva na terra,


o rodopiar das folhas com o vento,


o ar de repente frio na cara,


o olhar grávido de compreensão de um desconhecido,


o silêncio,


o reflexo do céu num rio, num lago, numa poça de água,


a sensação táctil do tronco de uma árvore velha,
como se ao toque se transferisse uma mensagem indecifrável,
um segredo feito de tempo e de estar.




há dias em que sou consciente de ser parte desse cenário maior onde a vida se desenrola (umas vezes governada pela termodinâmica, outras vezes limitada pela cinética, umas vezes aparentemente previsível, outras vezes descrevendo inesperados desvios e desafiando à invenção de novas energias de estabilização)
há dias em que simplesmente respirar aproxima, ou distancia… porquê? não sei…
descobriria talvez se pudesse decifrar todo este discurso vibracional que nos envolve, em que inevitavelmente conjugamos, dia após dia, o verbo ser (com mais ou menos convicção).
uma qualquer flor florindo não consegue senão ser. nela reconheceremos facilmente uma beleza intrínseca… natural. já entre gentes (entes, entes…) é fácil cair na tentação de a não reconhecer ou de a confundir com o que os olhos podem ver, quando a beleza é, tão simplesmente, a simultaneidade de verdade e benignidade no mesmo ente (gente, gente…). e por isso à partida todos têm em si a essência da beleza, que será tão mais perceptível à "vista" desarmada quanto mais fiel se for à verdade interior. difícil?… (também) aliciante! (com certeza)




19 outubro, 2006

f r A G I L










"eu quE já fUi

do pequEno alMoço à louCura"

(Adília Lopes)






imagem retirada daqui



17 outubro, 2006

"qui m'aime me suive"

sem querer encontrei o comentário a um filme francês: “Qui M'Aime Me Suive”, no blog: http://cinerama.blogs.sapo.pt/ que fez para mim todo o sentido, o comentário em si, não o filme, porque esse não vi (nem podia ter visto). fica aqui a fazer sentido...


"É sobre encontrar um sentido para a nossa vida, mesmo que isso implique dar uns passos atrás. Não se trata de fugir às responsabilidades, mas de assumir um novo conjunto delas e todas as consequências da mudança, e todas as mudanças consequentes. Escolher implica sempre deixar de lado um conjunto enorme de alternativas. Não escolher implica exactamente o mesmo. E só há um momento em que é demasiado tarde para mudar: exactamente aquele momento em que tudo muda."


o sentido... é isso que faz sentido procurar






10 outubro, 2006

subsentidos



os preâmbulos da memória
que num fim de tarde se demora
a desistir ou a esquecer…
dispersam-me nas mãos as cinzas
dos rituais sempre repetidos
em busca de subentendidos sentidos.

podia dizer-te de formas complicadas,
todas as palavras que mantenho caladas,
se tu as quisesses guardar
se fizesse sentido dispersar-me na tua direcção
(à velocidade do som)



quando posso ficar apenas
aparentemente parada ainda,
sempre crente numa qualquer espécie
de linguagem subversiva, subsistente,
subscrita, subpolar,
sub-reptícia, subcutânea,
submersa, sublime, subliminar,
sublinear, sublimável,
subentendida,
subtáctil, subtangível,
subpensada, subsentida…
será que sentes quando subenvio
silenciosas mensagens vibracionais…
através do ar, através da luz,
através do tempo?




imagem encontrada aqui


08 outubro, 2006

in the mood...



















uma viagem pelo mundo das sensações e emoções secretas das personagens...
personagens grávidas da sua própria história indecifrável...
um filme feito de silêncios, e distâncias,
amor e renúncia



(mais ninguém faz filmes assim)














































... for love

de wong kar wai




03 outubro, 2006

between darkness and wonder





entre a sanidade e a loucura



entre a vertigem e a esperança



entre a verdade e a mentira



entre o medo e a coragem



entre a paixão e a inércia



entre o desespero e a paz












o equilíbrio instável
na fronteira entre os países de nós...
quem se atreve a saltar?
quem se atreve a ficar imóvel perante o precipício?
quem se atreve a ignorar?
quem se atreve a recomeçar?
danço sobre as fronteiras.
sorrio na cara do espanto.
salto e sou a própria queda.
inspiro a preto e branco.


talvez as asas se lembrem ainda de voar...
ou a meio do voo se esqueçam
e numa nuvem ambígua me adormeçam


(subtraindo a dúvida à certeza,
dividindo a matriz da emoção
pelas raízes dos países subsistentes,
convertendo as mentiras em verdades
através de operações elementares,
decompondo a razão em mil factores,
reduzindo aos comuns mínimos múltiplos os amores)






imagem retirada daqui

02 outubro, 2006

"Dreams of a journey"




esta semana descobri em casa a banda sonora do filme "O Piano" e como não sabia que a tinha foi como receber um presente. é estranho como uma descoberta aparentemente tão insignificante me deixou tão feliz. Vi o filme nas férias e fiquei rendida à música, às personagens, ao filme (cada vez gosto mais de filmes com poucas palavras... e musicas acertadas nos devidos momentos...)
mas esta sensação de, ao ouvir uma determinada música, ter recebido esse momento de presente, faz-me pensar que se calhar oferecemos (e recebemos) de presente mais coisas do que momentos... dar tempo, partilhar momentos de qualidade, simplesmente estar... são talvez presentes muito melhores do que os objectos espaçosos e vazios de sentido, tantas vezes comprados à pressa, com que nos desembaraçamos da obrigação de oferecer algo a alguém...
claro que oferecer momentos dá mais trabalho, ocupa mais tempo, e nós hoje nunca temos tempo...



imagem encontrada aqui

13 setembro, 2006

depois






















gosto desta súbita claridade de fim de tarde depois da chuva,
como se de repente o dia voltasse a nascer
atrasado,
para morrer cedo demais.
gosto desta pálida luz calma,
como que murmurando que o tempo não faz sentido
e que sendo tudo já perdido
não há mais nada a perder.
gosto de voltar a ouvir a mesma música no mesmo lugar
sabendo que tudo está sempre a mudar
e nenhum momento se repetirá...
(nunca a mesma água passará duas vezes no leito do rio)
gosto de respirar fundo e imaginar
que música tem esta pessoa,
este momento, este lugar?
que sabor tem este instante,
este gesto, este olhar?




fotografia de Terri Weifenbach

06 setembro, 2006

inside a scattered blue light sky

a ouvir RYUICHI SAKAMOTO: the sheltering sky theme aqui


"Blue skies are produced as shorter wavelengths of the incoming visible light (violet and blue) are selectively scattered by small molecules of oxygen and nitrogen. The violet and blue light has been scattered over and over by the molecules all throughout the atmosphere, so our eyes register it as blue light coming from all directions, giving the sky its blue appearance."


retirado daqui


mas para quem for mais exigente e quiser uma explicação mais pormenorizada recomendo este


imagem encontrada aqui

04 setembro, 2006

the eternal sunshine...














































...of the spotless mind

WISHing for a spotLESS mind

antes de te conhecer (um te qualquer; como se fosse possível dissociar o pensamento do sentimento) o teu nome não significava nada para mim, era uma morada inútil, uma rua estranha, num mapa de desconhecidos. talvez até passasses por mim na rua. talvez até já tivesse estado sentada ao teu lado. antes de te conhecer, não existias para mim. existias menos do que as árvores dos meus caminhos de sempre.
antes de te conhecer o teu nome ouvido por acaso na boca de alguém não fazia nascer nenhuma imagem ou sensação, era como uma palavra inventada numa língua estrangeira que não saberia em que prateleira arrumar, nem que espaço lhe destinar, e que esqueceria 32 segundos depois, ou talvez nem isso (32 segundos ainda é um tempo de existência considerável)
antes de te conhecer não existia qualquer diferença entre ver-te ou não te ver, escrever-te ou não te escrever, ouvir uma música que sei que tu gostas ou não a ouvir, passar por ti na rua ou não passar, sentir a pele do teu braço por um instante ou não sentir, lembrar o teu sorriso ou não me lembrar (todos estados de igual energia, sem barreiras de activação nem angústias inusitadas ou borboletas no estômago)

e agora? não sei (éne à ó til ésse é i)

será que pela distância ou pelo tempo, ou recorrendo a algum, qualquer, elixir de esquecimento se consegue reequilibrar a energia, eliminar as variáveis incontroláveis, repor a ordem ou a insensibilidade às diferenças, às distâncias, aos silêncios, às sombras, às memórias mais obstinadas?… provavelmente… (serão, talvez, precisos bem mais do que 32 segundos)

outras dúvidas: será que se quer? será que se quer querer?
é caso para dizer...
(ou re-ver, ou re-experiênciar)
the eternal sunshine of the spotless mind
(para quem perceber)



··- --, -·· --- ·· ···, - ·-· · ···,
---....- · -- ·--· ---,
· ··· ··· ·....-·-· --- -·· ·· --· ---....--·- ··- ·- ··· ·
·· -· ··· ··- ·--· --- ·-· - ·- ···- · ·-··



(achei que ficava bem meditar o tempo em código morse...
eu própria, agora, ao olhar não o sei ler...
tão difícil é traduzir o tempo…)


"tempo (do lat. tempus), s. m. duração limitada, por oposição à ideia de eternidade; período; época; sucessão de anos, dias, horas, momentos, que envolve, para o homem, a noção de presente, passado e futuro; meio indefinido onde se desenrolam irreversivelmente, as existências na sua mutação, os acontecimentos e os fenómenos na sua sucessão; certo período determinado em que decorre um facto ou vive uma personagem; oportunidade; ensejo; estação ou ocasião própria; prazo; duração; estado atmosférico; (Mús.) cada uma das partes completas de uma peça musical, em que o andamento muda; duração de cada parte do compasso; (Gram.) flexão indicativa do momento a que se refere o estado ou a acção dos verbos; loc. adv. a ~: oportunamente, em boa hora; a dois ~s, a quatro ~s: ciclos de funcionamento de um motor."


(ou então não)

23 agosto, 2006





















agosto tirou-me de circulação ou foste tu?
e na verdade ainda não estou cá nem tu
"I don't know, I don't care, all I know is you can take me there"

e porque desaprendi todas as palavras
para poder não te escrever,
ou na esperança de que viesses tu pessoalmente
devolvê-las,
deixo só as imagens de um agosto por cumprir


































































































































27 julho, 2006

anjos, ou à sombra de outras asas






















os anjos também caem,
como as ideias caem do último andar,
uma a uma, cada uma a seu tempo,
e o tempo esquecido de parar
(o tempo não se deixa abalar pela intenção,
o tempo só conhece um sentido,
uma direcção).

os anjos também se esquecem de voar,
guardam as asas no bolso,
gastam os pés ao andar...
e deixam ao passar o aroma do mar
e o rumor das ondas pendurados
nos candeeiros,
nos parapeitos das janelas,
e nos ouvidos dos homens
que nunca viram o mar.
os anjos não têm memória,
guardam em gavetas revestidas a preceito
as lágrimas dos olhos dos velhos,
e os sorrisos das crianças que os vêem.
os anjos têm dentro do peito
um coração que se esqueceu de bater,
que algum dia bateu a compasso
descompassado, por algum amor que ardia,
mas de repente deixou de arder
e como dizia alguém:
de tanto bater o coração parou…


alguém os acordará um dia?
alguém abraçará esses corpos,
silenciosos e escorregadios,
pedras (es)colhidas do leito dos rios,
cheios de gavetas por lembrar
cheios de lágrimas e sorrisos por abrir?
alguém lhes abrirá o peito ao ar

(ele tacteando, cego, oxigénio,
sem conseguir respirar)
e plantará nele um rebento
que um dia floresça em flauta
ou fagote, violoncelo ou violino,
ou simplesmente em ave ou vento
ou outro qualquer instrumento
capaz de cantar?




quadro de salvador dali encontrado aqui

26 julho, 2006

hope there´s someone

.






















"Hope there's someone
Who'll take care of me
When I die, will I go

Hope there's someone
Who'll set my heart free
Nice to hold when I'm tired

There's a ghost on the horizon
When I go to bed
How can I fall asleep at night
How will I rest my head

Oh I'm scared of the middle place
Between light and nowhere
I don't want to be the one
Left in there, left in there

There's a man on the horizon
Wish that I'd go to bed
If I fall to his feet tonight
Will allow rest my head

So here's hoping I will not drown
Or paralyze in light
And godsend I don't want to go
To the seal's watershed

Hope there's someone
Who'll take care of me
When I die, Will I go

Hope there's someone
Who'll set my heart free
Nice to hold when I'm tired"


ANTONY AND THE JOHNSONS


quadro de salvador dali encontrado aqui

21 julho, 2006

A Vida Secreta das Palavras



La vida secreta




"Alguien dijo que desde el momento en que uno tiene vida interior, ya está llevando una doble vida."
"Las palabras, como manadas de peces, pululan en nuestra cabeza y se agolpan en las cuerdas vocales, pugnando por salir y por ser escuchadas por los demás. Y, a veces se pierden en ese camino entre la cabeza y la garganta. Esta película trata de todas esas palabras perdidas, que durante mucho tiempo vagan en un limbo de silencio (y malentendidos y errores y pasado y dolor) y un día salen a borbotones y cuando empiezan a salir ya nada puede pararlas."
Isabel Coixet


As imagens












































































































As palavras

porque hoje me encontro sem palavras que me libertem; ou que sejam capazes de descrever a experiência que pode ser um determinado filme num determinado momento (que este filme foi neste momento); ou que revelem tudo o que eu às vezes me lembro de te querer dizer (quando tudo, talvez, se pudesse dizer sem palavras)
afinal deixo o espaço em branco… como se ele pudesse conter os sentimentos, as vidas duplas, as máscaras, as lágrimas, as alegrias, as grandes descobertas, os pequenos acontecimentos, e tudo mais que eu pudesse dizer…

























"Deja que la palabra sea humilde, que sepan que el mundo no empezó con palabras, sino con dos cuerpos abrazados, uno llorando y el otro cantando".

Lê Thi Diem Thúy
























A música:

hope there´s someone (ANTONY AND THE JOHNSONS)

aqui

17 julho, 2006

nowhere land













(the beginning - 1)



I’m always lost (in translation)
'cause translating people can be too demanding…
When I can’t do something towards understanding
(me/ them/ you)
I should (maybe) do nothing,
just carry on, walking straight
(loosing myself) through
the Milky Way

















(the end - 2)




1- here is
2-(now)here

Prescrever

gosto do som de certas palavras.
podia repeti-las até me desinteressarem os significados e mesmo assim, se as ouvisse, o som ser-me-ia provavelmente familiar. talvez porque o som demore mais tempo a partir do que a luz.
por outro lado há palavras que são imediatamente visuais...




e há ainda aquelas que me agradam quer pela cor quer pelo som. e aqui chegada já não sei, se gosto delas pela visão ou pela audição ou por ambos os sentidos, porque não consigo desligá-los (aos sentidos... e/ou desligá-los uns dos outros).


estilhaçar, estilhaçada, estilhaço
destroçado, despedaçado, estilhaçado
(grupos de palavras... será que as associo pelo significado?... se o não soubesse poderia associá-las pelas música das sílabas)


estilhaço, regaço, envelheço, reconheço, recomeço, estremeço, entre meço, entrelaço, entreteço, entristeço, ...
e podia continuar por aqui fora a cantar-te silenciosamente a música das palavras, sem que te apercebesses do sentido disso. e talvez seja esse o único sentido. não fazer sentido nenhum.



fotografia de Dale Hudjik aqui

(im)pele

a pele.
a tua.
a pele do teu pulso
onde ela é mais branca.
a pele nesse instante
em que sorris
e ela é mais clara:
a pele quando ela é luz.
a pele onde ela se dobra sobre si mesma
e faz sombra
como as vezes no teu olhar
(não, essa é uma sombra de cor diferente).
a pele deslizando sobre os teus ossos,
se te moves, devagar.
a tua pele que reage ao sol
e muda-se a si mesma.
eu mudo-me a mim só para con-dizer.
(talvez devesse deixar-me des-con-dizer)


















se vieres nao te esqueças
de me pintar os olhos com os teus dedos
para te ver melhor,
para além das máscaras que me escondes...
quero ver-te; a cor [(d)a pele] quando te perdes,
quando adormeces,
quando te despedes,
quando chegas,
quando negas,
quando acordas.
quando não dormes
ou só quando és
(quanto és de ti) em cada instante.




image by Paul M. Schenk, Lunar and Planetary Institute, Houston, TX
encontrada aqui

14 julho, 2006

em branco










.
..
a
importância
de ......... deixar
espaços .. em
branco
...









o
espaço
entre duas
gotas ..... que
caem ........... em
distintos instantes.
o espaço entre nós.
o silêncio na
música
...

















caí outra vez ............. para o espaço vazio ............. dos dias sem ti








............. e esqueci-me de voltar ...........







.

desabrigo

.






.




























.






hoje apetecia-me andar descalça, sentir terra,
encostar a cara ao tronco de uma árvore e ouvir
a profusa corrente das águas interiores.
hoje apetecia-me que viesses
e dançasses comigo
num país onde o silencio me calasse os dedos e as dúvidas.
hoje apetecia-me só que viesses e não dissesses nada
e te perdesses comigo.






.






fotografia encontrada aqui

13 julho, 2006

era o sorriso

era o sorriso
e nele a promessa indizível
de tudo o que havia por dizer,
nele o mundo inexplorado.
algures uma fonte no centro da tristeza
reflectia nuvens prateadas
que ficavam assim, suspensas no olhar,
ou no silêncio que afinal nos alcançaste.
mas eu não quis ouvir
e mergulhei.
sempre à espera de um mundo inteiro
que não veio
que não vem.
depois falamos:
o tempo sempre adiado.
agora já não sei se sinto algo para além desse instante.
encostei a face esquerda à parede franca e fria
e esperei a transferência de calor
(de sentimentos)
voltarei reconstruída,
imbuída de outras missões mais específicas e precisas,
calcular, passar, escrever, falar, ir, voltar, …
infinitamente repetíveis
sem ânsias de sentido.
então quando me disseres:
depois falamos
responderei,
ok.
(ko, ok, ko, ok, ko…)
e já nada haverá em mim que te reconheça
ou se lembre ainda de uma parede branca
(franca, branca, franca, branca…)
noutro tempo,
(noutra vida)
que talvez sinta falta
do que não se disse,
do que não disseste.

06 julho, 2006

num plano perpendicular ao chão


hoje faço anos...
hesitei.
entretanto apercebi-me que tenho muitas razões para festejar,
não necessariamente por fazer anos hoje,
mas por hoje ser o unico dia que posso festejar,
este dia, este momento, este agora,
com as pessoas que me partilham comigo estes dias,
estes momentos, estes agoras...
fazer memória...
sorrir face às contrariedades e continuar
e deixar de perguntar se os meus passos me levam na tua direcção
e continuar.
talvez às vezes partilhar um instante,
uma visão.
a lua está no céu já,
mas eu trago cinco penduradas ao pescoço,
uma por cada fase
e outra completamente desfasada
voar não é um momento de felicidade,
um copo de café instantaneo
instantaneamente pronto por agitação
é saber que a felicidade já cá está.
o caminho é o caminhar.
aprender a voar é também voar,
um voo rente ao chão
as asas feitas de pó,
o chão feito ar
é já adivinhar tudo o que ainda não sei dizer,
tudo o que não sei ver,
tudo o que ainda não sei ser
acreditando que o posso ser a partir daqui.
ou bastará talvez ser simplesmente aquilo que sou.
deixar crescer as asas
sem medo que mas descubram debaixo da almofada.
lançar âncoras às nuvens,
só as vezes acertar,
acordar de madrugada,
beber água-só das chuvas,
não desejar mais nada,
não desejar mais nada





com uma asa tocar o céu,
com a outra beijar o chão








fotografia de darren holmes aqui

05 julho, 2006

o que me perco à janela...


arrumo tudo, mas não varro nada,
só o pó se desarruma pelo chão, pelos passos, pelos quadros, pelos vasos,...
cada instante uma fotografia do que fica por viver:
flores de mim à janela.
a janela aberta ainda
ou eu com preguiça de a fechar.
espero que chova o céu por mim.
ou que o vento leve as flores
(ou da flor da pele as dores)...
abandono ao ar tudo o que se gasta
e espero até se ver
os ossos e as cinzas do que não me esqueci de dizer:
memórias esquecidas do que me viste arder.

cada dia um novo fim para as histórias de sempre.
cada dia um novo renascer:
infinitas possibilidades de mudar de sentido,
de esquecer o nunca vivido e partir,
ou de infinitas vezes recomeçar...
no fundo do vaso resta o reflexo
do que não te ouvi sorrir,
do que não me viste voar.
visto a noite pelo lado errado
e vou errando pelos dias fora
até me re-encontrar.
construo castelos nas nuvens,
naturalmente,
(como quem cultiva ervas daninhas:
deixando nascer tudo o que vier,
o trigo, o joio, borboletas, andorinhas)
porque neles
a chuva chove rente ao chão,
as ameias rompem o azul onde o ar é mais puro,
e se fechar os olhos
e encostar ao ouvido as muralhas da imaginação,
posso ouvir aqui tão perto,
gargalhadas claras de água nas pedras.
do outro lado,
imenso,
o mar.








fotografia daqui

Fim

"Neste infinito fim que nos alcançou
guardo uma lágrima vinda do fundo
guardo um sorriso virado para o mundo
guardo um sonho que nunca chegou

Na minha casa de paredes caídas
penduro espelhos cor de prata
guardo reflexos do canto que mata
guardo uma arca de rimas perdidas

Na praia deserta dos dias que passam
Falo ao mar de coisas que vi
Falo ao mar do que conheci...

No mundo onde tudo parece estar certo
guardo os defeitos que me atam ao chão
guardo muralhas feitas de cartão
guardo um olhar que parecia tão perto

Para o país do esquecer o nunca nascido
levo a espada e a armadura de ferro
levo o escudo e o cavalo negro
levo-te a ti... levo-te a ti para sempre comigo...

Na praia deserta dos dias que passam
Falo ao mar de coisas que senti
Falo ao mar do que nunca perdi."


Toranja
hj respiro fundo
e deixo-me ser inspirada
pelo mundo
(como se o mundo me respirasse)
e pelos outros...
reaprendo a sorrir tudo
o que dói,
reaprendo a pensar tudo
o que foge.





















quero parar de correr,
ter tempo para encontrar.
ou perder...






imagem daqui

04 julho, 2006

Cerca de las vías

"Hay días que parece
que nunca se va a apagar el sol,
y otros son más tristes
que una despedida en la estación.

es igual que nuestra vida
que cuando todo va bien...
un día tuerces una esquina
y te tuerces tu también.

Esa telaraña
que cuelga en mi habitación
no la quito, no hace nada,
solo ocupa su rincón.

Yo he crecido cerca de las vías
y por eso sé,
que la tristeza y la alegría,
viajan en el mismo tren
¿Quieres ver el mundo?
Mira, esta debajo de tus pies.

Con el paso de los años
nada es como yo soñé.
Si no cierras bien los ojos,
muchas cosas no se ven.

No le tengo miedo al diablo
¿no ves que no puedo arder?
No hay mas fuego en el infierno
del que hay dentro de mi piel.

Todo lo malo y lo bueno
caben dentro de un papel.
¿Quieres ver el mundo?
Mira, está debajo de tus pies"

Fito y los Fitipaldis

03 julho, 2006

2046 é ...


Faye Wong
Tony Leung















Maggie Cheung













Gong Li
Zhang Ziyi


















Um filme de Wong Kar-Wai