23 julho, 2010

definição


revelar - associação das acções rever e dar, reavaliar e expor, ou expor e depois rever, segundo a ordem que se quiser. Mostrar o até então escondido, secreto, invisível, explicar o oculto, misterioso, indecifrável. Elucidar ou elucidar-se, dar ou dar-se.


revelação - acção que se revela, mostra, expõe... pode ser uma acção muito parada (como uma imagem)... ou até uma inacção (como uma ausência)... o que importa é que o acto de exposição se explique a si próprio.


revelação


(era) segredo


eu que nunca sei dizer o que sinto (mais depressa fujo, mais depressa minto) e detesto que me vejam chorar (mais depressa coro, mais depressa finjo ter um cisco no olho ou uma alergia ao oxigénio do ar) comovo-me em segredo, por tudo e por nada, a toda a hora, em qualquer lugar.


(e ainda é)


19 julho, 2010

B Fachada - O Desamor


e por falar em canções (mas agora canções a sério) aqui fica o B-Fachada, despretensioso e arejado, tradicional e inovador, descontraído e corrosivo... Para quem não conhece vale a pena parar e escutar, nem que seja para não gostar... parece-me que já não encontrava letras assim desde o Sérgio Godinho, ou desde o Manel Cruz.

Já agora, o novo disco "Há festa na moradia" está disponível para download gratuito em www.mbarimusica.com/. Música para agitar depois de usar, para agitar o corpo, para agitar ideias, para arejar o coração. Disco para embalar as férias e o Verão.




canção sem música


eu gosto é de ilusões:
a realidade é um balde de água fria
que me acorda às quatro e meia, cinco e pico, seis e dia
com mais fome e menos fé.

enquanto o tempo se entre-tem, se entre-tece
e o silêncio me des-ilude, me entorpece,
vou ver se escrevo, vou ver se calo,
vou ver se esquece.

(porque eu não esqueço, eu não esqueço
eu só peco, faço, parto, volto errante,
fico só e só tropeço, corto horas e distâncias
com a finita (im)precisão de um talhante)

e afinal a longa espera é sempre em vão
e as palavras que eu te gasto
são só a minha maneira
de iludir a solidão.


13 julho, 2010

Jordi Savall - yo me enamore de un ayre


Para quem não o conhece aqui fica Jordi Savall (com El Maloumi e Pedro Estevan, entre outros companheiros de viagem).

Instruções: fechar os olhos e usar a imaginação... (a música é um dos melhores meios de transporte para viajar).


Viajar...


em tempos de crise passam-se as férias em casa... mas há viagens que se podem fazer sem sair do lugar. um bom livro pode levar-nos a qualquer lugar... seja ele um livro de viagens, um romance, um livro de ficção científica ou um policial. um bom concerto pode fazer-nos viajar no espaço e no tempo, por terras estranhas, por praças e desertos, por cores e sabores até então desconhecidos, do oriente ao ocidente, das águas gélidas do norte aos quentes ritmos africanos...
e tudo isto por muito pouco dinheiro: nas bibliotecas municipais requisitam-se livros de graça; no verão há festivais de música para todos os gostos a preços para todos os bolsos.
(e se não quisermos mesmo "sair do lugar" podemos sempre viajar... na internet.)

na minha última viagem fui de Marrocos à Turquia, da Galiza à Alexandria, uma viagem no tempo e no espaço conduzida por Jordi Savall, Driss El Maloumi, Pedro Estevan e Dimitris Psonis. Para quem não esteve lá, mas gostaria de ter estado, basta esperar pela próxima visita de Jordi Savall (desta vez com os Hespèrion XXI) à Casa da Música no dia 6 de Novembro.

10 julho, 2010

Hoje


Hoje começa o Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim com nada mais nada menos do que Jordi Savall (e companhia) num concerto de Músicas antigas e Músicas do mundo que promete ser um encontro entre Oriente e Ocidente, porque na diversidade está a nossa maior riqueza e a música é sempre um meio privilegiado para o diálogo entre os povos.

O concerto de hoje está esgotado... (e eu vou estar lá :-) mas vale a pena estarem atentos ao programa e passarem por lá para ouvir boa música a preços reduzidos depois de uma boa tarde de praia (de preferência num dia em que não esteja vento e nevoeiro como) e de um banho no mar (se tiverem coragem de enfrentar a temperatura do mar da Póvoa...)



06 julho, 2010

Pérolas aos Poucos - Zé Miguel Wisnik


Hoje faço 28 anos. O ano passou por mim a correr, com a intensidade dos anos de mudança: mudança de direcção, sabor de coisas novas, mas familiares cá dentro, como aquelas pessoas que encontramos e parece que conhecemos há muito, ou aquelas que raramente vemos, mas parece que nunca saíram de perto de nós.
as escolhas são difíceis, porque abrem umas portas, mas fecham outras e nunca temos certezas absolutas. só podemos avaliá-las pelos frutos, pela luz nova que trazem à vida, pela felicidade que nos dão apesar do cansaço e das dificuldades, pela paz interior que sentimos apesar do futuro ser tão incerto como sempre foi...
os aniversários são geralmente dias em que as pessoas nos oferecem coisas (espero que poucas, porque já tenho tudo o que preciso), mas dei por mim a pensar no que terei eu oferecido às pessoas ao longo deste ano, se estive atenta ao que as pessoas precisavam de mim, se estive presente na vida das pessoas que hoje se lembraram de mim ou se andei demasiado ocupada com as minhas coisas.
que presente é que damos aos outros todos dias? não falo dos presentes embrulhados com laço e tudo, mas do dia de hoje, do tempo presente, da presença que temos no tempo presente das pessoas, do espaço-tempo que ocupamos, roubamos, oferecemos e de como o fazemos.
lembrei-me de uma canção que descobri há pouco tempo e que gosto muito: "Pérolas aos poucos". Será que damos sempre pérolas aos outros, ou seja, sempre o melhor de nós? Será que sentimos que as pérolas que damos se perdem? Eu acho que aquilo que dou é sempre muito pouco, vem do pouco que eu sou, mas acredito que nada daquilo que se dá, nada daquilo que se partilha se perde. só se perdem as pérolas que guardamos para nós e não são úteis a ninguém.






05 julho, 2010

o encontro

quando nos aproximámos ficamos mais vulneráveis. subitamente o que outro diz ou faz pode ferir-nos em lugares até ali intocáveis. e pode até fazê-lo sem intenção, mas a dor não é menor por isso. por outro lado, se nos fecharmos para evitar a dor evitámos também todas as alegrias e surpresas do encontro. toda a luz e toda a sombra. tudo o que de bom e mau se aprende sobre os outros e sobre nós. evitar sentir é evitar viver. evitar viver é evitar ser. somos aquilo que somos com os outros. somos aquilo que somos sem os outros. somos aquilo que somos para os outros. somos aquilo que os outros são em nós. não podemos evitá-los sem nos evitarmos a nós mesmos. como explicam Daniel Faria e Rainer Maria Rilke para se ser grande há que ser frágil (quando digo grande entenda-se inteiro, íntegro, verdadeiro, belo).


A tua pequenez é enorme.
Nada te pode vencer.
Não recuses nenhum dos teus limites, só eles dizem a grandeza do que tens.

Daniel Faria



Entrega sempre a tua beleza
sem cálculo, sem palavras.
Calas-te. E ela diz por ti: eu sou.
E com mil sentidos chega,
chega finalmente a cada um.

Rainer Maria Rilke,
in “O Livro das Imagens"