29 janeiro, 2011

Mais


queremos sempre mais, mais liberdade, mais paz, mais felicidade, mais justiça, mais realização, mais verdade, mais amor, mais, mais, mais... mas será que procuramos no lugar certo? ou será que nos deixamos absorver pela procura? os tempos sucedem-se, uns mais fáceis, outros mais difíceis, às vezes parecem atropelar os nossos planos perfeitos e as nossas óptimas intenções...
sei que a liberdade será sempre incompleta, que a felicidade será sempre imperfeita. olho para dentro e percebo que já tenho, no fundo, a paz e a liberdade que preciso para o dia de hoje, para o tempo presente. desconcertante, não é? inesperadamente simples. queremos sempre mais, mas o tempo não se apressa, as conquistas demoram o seu tempo (às vezes a vida inteira) e cada tempo traz as suas próprias respostas.


28 janeiro, 2011

(des)existir III


há uma linha que marca a fronteira. há uma linha para lá do cansaço, para lá da razão... e cada passo que dás nessa direcção aumenta grão a grão o teu desfasamento com o resto do mundo. o mundo vai ficando cada vez mais longe e desfocado. o corpo cada vez mais lento e mais cansado. quanto tempo se pode caminhar nesse deserto? quanto tempo vive uma árvore sem raiz? quanto tempo até o corpo desistir? quanto tempo até o vento apagar os teus passos e não saberes mais para onde voltar? quando tempo? um dia? uma hora? um passo?


20 janeiro, 2011

(des)existir II


às vezes a persistência é boa. é preciso saber esperar.

às vezes a persistência é teimosia. é preciso saber perder.


18 janeiro, 2011

o lado-luz dos dias-sombra


hoje o meu cansaço é daqueles que tem raízes antigas e profundas, daqueles que continua a doer no corpo mesmo depois de dormir. [daqueles que quase me faria escrever (te).]
hoje o meu cansaço é também mais lúcido: vejo como me tenho deixado governar pelo trabalho e não tenho respeitado os meus limites, vejo que tudo o que me dói é falta de liberdade. falta de liberdade se só tenho tempo para trabalhar e se me desiludo como se tudo dependesse de mim. falta de liberdade se vivo centrada na minha vidinha, neste círculo fechado e pequeno onde só cabem as minhas necessidades urgentes, as minhas pessoas ausentes, as minhas dores, os meus cansaços, os meus objectivos. falta de liberdade se me iludo com os meus desejos e invento papéis para os outros, e desespero com a espera, e me angustio com as ausências e com a liberdade dos outros. [por que é tão difícil respeitar a liberdade dos outros de ficar ou de partir?]. falta de liberdade se por desilusão me isolo e ignoro a vida que chama lá fora todos os dias: tenta mais, faz mais, vive mais, dá mais! falta de liberdade se me ocupo e ignoro a vida que me chama cá dentro: acredita mais, faz melhor, vive em paz, dá gratuitamente!
no meio do cansaço percebi também que preciso muito desse lugar chamado casa e que esse lugar não é simplesmente um lugar-lugar, mas sim um lugar-pessoas. a minha casa é onde estão as minhas pessoas-casa. e quando estou muito cansada descanso melhor se estou ao lado delas. às vezes não preciso sequer de desabafar com elas, basta-me estar com elas e ouvi-las e falar das coisas banais dos dias e das coisas importantes que nos angustiam, que nos movem, que nos comovem, basta-me estar com elas sem dizer nada para me sentir em casa e ficar melhor. [se o cansaço me faz olhar melhor para mim, para os dias e para os outros, então não pode ser mau. afinal, nada é só bom ou só mau.]


15 janeiro, 2011

Coldplay - See You Soon




essencial para a felicidade de cada dia é a confiança. cada dia é uma oportunidade de fazer melhor, de ser melhor, mas há muitas coisas que não se conseguem controlar. tantas vezes nos deixamos arrastar pela correria do mundo, pela falta de tempo para parar, para estar. tantas vezes nos deixamos confundir pela distância entre o que desejamos e a realidade. é essencial confiar: "para tudo há um momento e um tempo para cada coisa que se deseja debaixo do céu". tempo para procurar e tempo para esperar. tempo para falar e tempo para calar. tempo para abraçar e tempo para evitar. tempo para encontrar e tempo para perder.


13 janeiro, 2011

dias de inverno e erosão


sentimentos e ilusões em constante confronto com a realidade - a erosão a gastar-me por dentro, a esculpir fronteiras, montanhas, falésias interiores. o cansaço à flor-da-pele a estender raízes para o lado de dentro... não sei por onde andam, mas às vezes sinto-as: pequenas vibrações, pequenas (in)dores.
cada palavra que escrevo é silêncio que me ocupas; a cada palavra-passo estou um instante mais longe. a cada instante inspiro o que te afastas e paro, espero. em cada instante adivinho o princípio, o meio, o fim, realidades separadas ou diferentes existências condensadas numa mesma realidade, presentes em potência em cada pessoa, em cada oportunidade, em cada escolha? isto é o princípio, ou o princípio do fim? ou somos um meio para atingir um fim? ou somos fins, mas não há meio de principiarmos?


11 janeiro, 2011

citação


"o esforço é uma espada de dois (le)gumes"


09 janeiro, 2011

o princípio, o meio, o fim


em cada tempo, acontecimento, pessoa ou relação estão contidas, em semente, o seu princípio e o seu fim. não os conseguimos ver, mas estão cá. não os consigo ver, mas trago-os dentro de mim. o princípio, o meio, o fim. não posso ver, mas posso confiar. olá, adeus, talvez sim, talvez não, quem sabe?...


fim do semestre


estes são dias de hibernar. não estou cá. estou retida. estou contida. estou ausente.


05 janeiro, 2011

(des)ilusão


Há dias em que todas as horas são distância.


04 janeiro, 2011

(des)existir


luz e sombra
angústia e sede:
a distância tece-te
em meus dedos.
já não sou livre,
já não sou perto,
sou a retórica dos teus medos,
sou a esperança esquecida,
sou a voz dos teus segredos,
sou a ausência da criança,
sou a manhã branca e mordida
pela pulga na balança.
sou as mãos do teu silêncio,
sou as noites que não dormes
e as insónias que não tens.
sou a palavra escondida
na tua página vazia,
sou a rotina que te azia.
sou o verbo que desistes,
sou o substantivo que não usas,
sou complemento directo a que resistes.
sou o cansaço que não dizes,
sou tua dor que não descansa,
sou o teu sonho por cumprir
por isso levanta-te e dança
que eu estou decidida,
vou ficar (estou perdida,
não tenho nada a perder).


03 janeiro, 2011


"Houvesse um sinal a conduzir-nos
E unicamente ao movimento de crescer no guiasse. Termos das árvores
A incomparável paciência de procurar o alto
A verde bondade de permanecer
E orientar os pássaros"


Daniel Faria
in "Poesia" (2009)
Edições Quasi