29 abril, 2006

um dia verei a minha vida como um rio... seguindo calmamente pela planície, ou enfrentando terrenos acidentados? desviando-se de grandes montanhas, ou rasgando vales por entre elas? correndo sem nunca se deter, ou retida por barragens e espraiando-se em albufeiras? seguindo um caminho solitário, ou cruzando-se e misturando-se com afluentes e ribeiros? crescendo passo a passo, ou aniquilando-se em sub-missão num rio maior?


um dia chegará o mar (porque é sempre o mar que chama o rio e não o rio que chega ao mar). nesse dia verei a minha vida como um rio, hoje ainda não.

28 abril, 2006

"Mostra-me o teu lado lunar"


Imagem da lua de Saturno: Enceladus

Credit: NASA/JPL/Space Science Institute

há flores que nascem no chão... pequeninas e isoladas,
quase parecem perdidas no meio da vegetação...

há outras que nascem no ar, suspensas...
como quem se prepara para voar,
mas não se atreve a arriscar....

para encontrar umas e outras é preciso procurar,
para as re-conhecer é preciso parar,
para as ver como elas são é preciso tornar-se próximo
devagar... como quem não tem pressa,
como quem não tem nenhum outro lugar melhor para estar,
a não ser ali, a aprender a olhar com olhos novos,
a aprender a amar com um coração novo.

26 abril, 2006


hoje sonhei contigo acordada
sentada no sotão de uma casa inacabada

25 abril, 2006

sede

Atravessando o deserto dos espectros de IV e de RMN, eis que me surges por entre os dedos inevitável. Todos nós somos sharp singletos... até nos aproximarmos o suficiente para sentirmos o efeito dos núcleos vizinhos. E de repente o campo magnético sobre mim aplicado é drasticamente afectado pela tua presença na vizinhança e dou por mim inexplicavelmente desprotegida.

I
Toda a água me atravessa
e nenhuma se detém
e por isso a sede intacta
intacta permanece.
É quando a noite cai
que a máscara me trai
e revela que te espero
ainda, como se te conhecesse
por inteiro, e tu soubesses
já de cor o meu poema.
II
Agora que do futuro vieste
e me sonhaste
já não me chega
esta ausência de ti em flor.
O meu desejo mergulha
no mistério permanente
que une a dor do teu olhar
ao canto do teu sorriso.
Deixa-me só ficar calada devagar
na tua boca,
enquanto nos meus olhos
nasce a aurora do teu espanto.
Querer perder-me assim
é vislumbrar,
na semente frágil e oca do sonhar,
a árvore mais esquecida do paraíso.

20 abril, 2006

"You're just too good to be true.
Can't take my eyes off you.
You'd be like Heaven to touch.
I wanna hold you so much.
At long last love has arrived
And I thank God I'm alive.
You're just too good to be true.
Can't take my eyes off you."

19 abril, 2006

uma frase que encontrei aqui, já há algum tempo...
como sempre as palavras demoram a fazer sentido, demoram o tempo que precisam, como o tempo que os frutos precisam de amadurecer depois da flor ter caído. e o tempo não se apressa, por muito que pareça às vezes correr e outras vezes parar... o tempo demora o tempo que se quer demorar, até que em nós as flores possam cair e os frutos amadurecer...
não adianta tentar colher o fruto antes do tempo. é preciso aprender a esperar devagar.

"o que eu gostava
era de poder falar na tua boca
para que as tuas palavras fossem minhas
e pudesse permanecer silencioso ao teu lado."


pedro paixão

17 abril, 2006

Caminhos (2)

"«Ama e faz o que quiseres». Esta famosíssima frase de santo Agostinho tem que se lhe diga. É que quem ama, só pode fazer o bem. E querer o bem é muito exigente. Não é «ama e faz o que te apetece», o que seria uma contradição. É antes: «Se amares de verdade, vais saber escolher o bem e o melhor.»"


Vasco Pinto Magalhães, em "Não há soluções, há caminhos"

Caminhos (1)

"Um bom coração é o que entende a alegria e a tristeza dos outros. É o que entende, por dentro, e tem coragem para lutar e sofrer pelo bem do outro. O bom coração vê o que é bom para o outro e faz tudo para o conseguir. O bom coração vê, entende, promove. E fica a bater sozinho se a liberdade do outro o pedir."


Vasco Pinto Magalhães, em "Não há soluções, há caminhos"

14 abril, 2006

"porque nos criaste para Ti e o nosso coração vive inquieto,
enquanto não repousa em Ti" (Santo Agostinho)

Retrato


Se eu soubesse pintava o teu retrato...
como nao sei, procuro em vão nas palavras
uma imagem que te descreva...
mas elas enrolam-se, desdobram-se e nao sobra nada.
talvez às vezes até me atreva
a tentar ver-te de madrugada...
entre uma estrela e outra me escondo ainda,
parece sempre tarde para te esperar
e demasiado cedo para te falar...
por isso fico escondida a ver-te enquanto passas
e essa imagem tua guardo, e um sorriso
que me ilumina as noites cheias
de horas e de ausências,
e me aquece as mãos quando se sentem
demasiado frias e vazias de ti.


Imagem: Galatea of the Spheres, Salvador Dali

10 abril, 2006

Espera

há poucos poemas que sei de cor... este sei-o há anos. continua a ecoar em mim ao longo do tempo. há dias em que soa tão certo como o tic-tac do relógio com tudo o que há de inevitavél nele, e talvez por isso exista algo de paz nessa eterna angústia. a paz da inevitabilidade. a paz não da resignação, mas da aceitação daquilo que é, e daquilo que se é...

este poema recorda-me o principio da "viagem" que me levou à Póvoa e que me faz continuar por lá no seio de uma família nova. por isso aqui fica uma dedicatória a essas famílias que escolhemos e ajudamos a construir, essas famílias que no princípio são como vasos fora de casa e parecem tão desprotegidas, mas depois vão ganhando raizes e tornam-se outras casas fora de casa.


Espera

Horas, horas sem fim,
pesadas, fundas,
esperarei por ti
até que todas as coisas sejam mudas.

Até que uma pedra irrompa
e floresça.
Até que um pássaro me saia da garganta
e no silêncio desapareça.

Eugénio de Andrade

09 abril, 2006

Ursa Maior

o dia acabou há muito, mas procuro ainda, não sei porquê procuro ainda. talvez se parasse de procurar encontrasse. talvez se me calasse ouvisse. talvez...
talvez todas estas vozes já não sejam minhas mas da noite, a noite em mim, a noite sonâmbula pela casa a pedir guarida.
vou fazer-lhe a cama de lavado, aconchegar-lhe o cobertor, sentar-me à sua cabeceira a vê-la dormir.


"Olho o céu sem fim à espera de ver a mesma estrela que tu vês"

Guardado no Coração Álvaro Magalhães

08 abril, 2006

Persistência

há sempre um momento em que a luta parece inglória
e a solidão é este cálice prateado de água salgada
que me alimenta a sede

fotografia de José Lopes retirada daqui

do
you
see
me?


fotografia de Carlos Vilela retirada daqui


Ventos do Oriente,
Ventos do Ocidente


Cuadro Flamenco

Al-Mahira
o orgulho ferido do flamengo

o sabor agridoce da sedução

o som do coração a bater ao compasso descompassado da paixão

onde arde esse fogo

ainda

07 abril, 2006

onde é que a intersecção se torna diferente de zero?
quando é que o todo se torna maior que a soma das partes?


The Kiss, Gustav Klimpt

06 abril, 2006



I'm "lost in translation".
walking trough the rain without being touched.
walking trough the crowd without being seen.


sinto-me algemada na inércia dos dias.
que vontade louca de soltar amarras e voar na tua direcção!...
triste memória à minha que vai perdendo por diluição
os traços do teu sorriso.
que vontade absurdamente feliz de te abraçar a solidão.


hoje ao som dos kings of convenience aqui


05 abril, 2006

segredo

percorro a angústia com dedos de papel... dobra-se aqui, desdobra-se ali. estou à procura? estou parada? estou a caminho ou estou sentada? em quantos medos se desdobra o medo? esconde-te em mim, no meu enredo. não digas nada, não tenhas pressa,... fica só aqui calado, a gastar comigo esta nuvem de oxigénio. dá-me a mão e não digas nada. será o nosso segredo.

04 abril, 2006

Cintura de Orion











a ouvir "stop crying your heart out" aqui






03 abril, 2006

des-encontros

foi inesperado encontrar-te... por momentos cheguei a pensar: estou curada... parece-me agora que me limitei a olhar noutra direcção, mas no fundo, padeço ainda da mesma doença de sempre.
aqui fica a letra da banda sonora de hoje...

Tales of a Scorched Earth

Farewell goodnight last one out turn out the lights
And let me be, let me die inside
Let me know the way from of this world of hate in you
Cause the dye is cast, and the bitch is back
And we're all dead yeah we're all dead
Inside the future of a shattered past
I lie just to be real, and I'd die just to feel
Why do the same old things keep on happening?
Because beyond my hopes there are no feelings
Bless the martyrs and kiss the kids
For knowing better, for knowing this
Cause you're all whores and i'm a fag
And i've got no mother and i've got no dad
To save me the wasted, save me from myself
I lie just to be real, and I'd die just to feel
Why do the same old things keep on happening?
Because beyond my hopes there are no feelings
Everybody's lost just waiting to be found
Everyone's a thought just waiting to fade
So fuck it all cause I don't care
So what somehow somewhere we dared
To try to dare to dare for a little more
I lie just to be real, and I'd die just to feel
Why do the same old things keep on happening?
Because beyond my hopes there are no reasons

Smashing Pumpkins