a taça vazia sobre o muro.(existir não chega).
um gesto de atenção chegaria para encher a taça.
(um gesto quase banal devolveria o estado de graça).
um movimento mais brusco e desilude-se a ilusão.
um passo impreciso entre a confiança e a dúvida,
um gesto inseguro por um móbil mais puro.
cala-te, mas não te esqueças do que ias dizer.
calo-me, mas não me esqueço do que posso sofrer.
os dias sucedem-se na lista telefónica do esquecimento
(que dia é hoje? é teu este dia?)
agarro-me ao meu (medo ou) mecanismo de segurança interna-dor (msi-dor)
e escrevo (me) sucessivamente em dó menor
para disfarçar a falta de talento para entender o mundo:
dó, ré, mib, ré, dó, solilóquio mudo em tom profundo
(queres ver a cor deste tempo, dos dias que eu já sei de cor?
dos dias iguais a todos os dias: cadência suspensivo-controla-dor)
não há palavras que me sirvam, que me aqueçam, que me calem
mas para dizer o que (te) digo, melhor seria estar calada,
pois às palavras tantas sinto que te engano, me desdigo:
não é minha a tua voz, não é teu o meu desejo,
não é tua a minha esperança, não é meu o teu cansaço.
silencio o cálculo da probabilidade das imponderabilidades e descanso,
hoje é só mais um daqueles dias de desassossego mais intenso
em que me claro, espero, escuro, penso, calo, quero tudo! adormeço.