You Are 50% Weird |
Normal enough to know that you're weird... But too damn weird to do anything about it! |
29 maio, 2006
E por falar em loucura...
SÍSIFO
"Recomeça...
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças."
Miguel Torga, Diário XIII
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças."
Miguel Torga, Diário XIII
26 maio, 2006
é quase noite.
o calor gastou-me até aos ossos
e a sensação de gripe consumiu o resto.
entro finalmente em casa: o nosso castelo nas nuvens que começamos pelo telhado...
está inacabado, mas tem já um quarto estofado azul céu, com o tecto aberto para a noite.
espero que arrefeça.
espero que a noite me adormeça.
espero sonhar contigo.
já tive um dia cheio da tua ausência.
fotografia de Sérgio Rodrigo daqui
o calor gastou-me até aos ossos
e a sensação de gripe consumiu o resto.
entro finalmente em casa: o nosso castelo nas nuvens que começamos pelo telhado...
está inacabado, mas tem já um quarto estofado azul céu, com o tecto aberto para a noite.
espero que arrefeça.
espero que a noite me adormeça.
espero sonhar contigo.
já tive um dia cheio da tua ausência.
fotografia de Sérgio Rodrigo daqui
25 maio, 2006
"a culpa é da vontade" é certo, mas a vontade não é suficiente para me re-inventar. sei quem não quero ser e aceito a inevitabilidade da nossa incompatibilidade circunstancial. por isso saio já, não sem dor, mas para evitar entrar lentamente numa espiral de ilusões e recriminações.
hoje estou febril, devo estar imunodreprimida, a garganta dói-me, tenho frio e calor intermitentemente... agora que penso, talvez seja por isso que consigo ser radical: é a febre a subir...
todos os dias sinto a urgência de estar e todos os dias aceito as tarefas insignificantes a que me propus e repito incansavelmente o mesmo caminho, como Sísifo empurrando a pedra montanha acima, interiormente revoltada com a minha inércia.
escolho a opção mais absurda, porque contrária aos meus instintos, porque racional e interiormente mais desgastante do que fazer de ti mais uma pedra no caminho. deixo-te cair. talvez um dia destes nos voltemos a cruzar e as nossa pedras sejam então mais leves e ocupem menos espaço permitindo-nos caminhar lado a lado e inventar outro caminho. talvez não. talvez seja só isto o que nos estava reservado: desencontros.
todos os dias enfrento a despedida. calo dentro de mim a asa ferida e esqueço-me de voar... um dia destes tenho que decidir se quero ser árvore ou ave... hoje não. em tempos conturbados não se tomam grandes decisões.
escolho o meu deserto, adopto a minha solidão. esvazio-o de palavras inúteis e passeio o meu silêncio por fora até ele fazer eco por dentro. tenho palavras demais e nada para dizer.
hoje estou febril, devo estar imunodreprimida, a garganta dói-me, tenho frio e calor intermitentemente... agora que penso, talvez seja por isso que consigo ser radical: é a febre a subir...
todos os dias sinto a urgência de estar e todos os dias aceito as tarefas insignificantes a que me propus e repito incansavelmente o mesmo caminho, como Sísifo empurrando a pedra montanha acima, interiormente revoltada com a minha inércia.
escolho a opção mais absurda, porque contrária aos meus instintos, porque racional e interiormente mais desgastante do que fazer de ti mais uma pedra no caminho. deixo-te cair. talvez um dia destes nos voltemos a cruzar e as nossa pedras sejam então mais leves e ocupem menos espaço permitindo-nos caminhar lado a lado e inventar outro caminho. talvez não. talvez seja só isto o que nos estava reservado: desencontros.
todos os dias enfrento a despedida. calo dentro de mim a asa ferida e esqueço-me de voar... um dia destes tenho que decidir se quero ser árvore ou ave... hoje não. em tempos conturbados não se tomam grandes decisões.
escolho o meu deserto, adopto a minha solidão. esvazio-o de palavras inúteis e passeio o meu silêncio por fora até ele fazer eco por dentro. tenho palavras demais e nada para dizer.
os ecos do livro, invadem o meu silêncio. talvez este livro já não seja sobre eles, mas sobre mim:
"Um postal. Uma caligrafia bem desenhada preenche o rectângulo.
Passo metade dos meus dias desesperada por não te poder tocar. O resto do tempo, sinto que não importa tornar ou não tornar a ver-te. Não é uma questão de moral, mas do ponto até onde chega a resistência de uma pessoa.
Nem data, nem assinatura."
"No deserto, um homem pode agarrar a ausência na concha das mãos, sabendo que tem nela um alimento mais precioso que a água. Conhece uma planta, próximo de El Taj, cujo coração, quando arrancado é substituído por um líquido cheio de virtudes medicinais. Todas as manhãs se pode beber uma quantidade de líquido de igual volume ao do coração ausente. A planta continua a florir durante um ano, até morrer de uma qualquer carência."
O doente inglês, Michael Ondaatje
A Culpa é Da Vontade
"A culpa não , não é do Sol
Se o meu corpo se queimar
A culpa não, não é do Sol
Se o meu corpo se queimar
A culpa é da vontade
Que eu tenho de te abraçar
A culpa não, não é da praia
Se o meu corpo se ferir
A culpa não, não é da praia
Se o meu corpo se ferir
A culpa é da vontade
Que tenho de te sentir
A culpa é da vontade
Que vive dentro de mim
E só morre com a idade
Com a idade do meu fim
A culpa é da vontade
A culpa não, não é do mar
Se o meu olhar se perder
A culpa não, não é do mar
Se o meu olhar se perder
A culpa é da vontade
Que eu tenho de te ver
A culpa não, não é do vento
Se a minha voz se calar
A culpa não, não é do vento
Se a minha voz se calar
A culpa é do lamento
Que sufoca o meu cantar
A culpa é da vontade
Que vive dentro de mim
E só morre com a idade
Com a idade do meu fim
A culpa é da vontade"
Humanos
Se o meu corpo se queimar
A culpa não, não é do Sol
Se o meu corpo se queimar
A culpa é da vontade
Que eu tenho de te abraçar
A culpa não, não é da praia
Se o meu corpo se ferir
A culpa não, não é da praia
Se o meu corpo se ferir
A culpa é da vontade
Que tenho de te sentir
A culpa é da vontade
Que vive dentro de mim
E só morre com a idade
Com a idade do meu fim
A culpa é da vontade
A culpa não, não é do mar
Se o meu olhar se perder
A culpa não, não é do mar
Se o meu olhar se perder
A culpa é da vontade
Que eu tenho de te ver
A culpa não, não é do vento
Se a minha voz se calar
A culpa não, não é do vento
Se a minha voz se calar
A culpa é do lamento
Que sufoca o meu cantar
A culpa é da vontade
Que vive dentro de mim
E só morre com a idade
Com a idade do meu fim
A culpa é da vontade"
Humanos
24 maio, 2006
hoje um dia cheio de horas em silêncio até me conseguir calar.
o sono queria abraçar-me, mas não deixei.
o café focou-me num só ponto e consegui finalmente
ouvir o silêncio pelo lado de dentro.
o sono queria abraçar-me, mas não deixei.
o café focou-me num só ponto e consegui finalmente
ouvir o silêncio pelo lado de dentro.
fotografia de Nelson Silva retirada daqui
Pode alguém ser quem não é
"- Senhora de preto
diga o que lhe dói
é dor ou saudade
que o peito lhe rói
o que tem, o que foi
o que dói no peito?
- É que o meu homem partiu
Disse-me na praia
frente ao paredao
“tira a tua saia
da-me a tua mão
o teu corpo, o teu mar
teu andar, teu passo
que vai sobre as ondas, vem”
Pode alguém ser quem não é?
Pode alguém ser quem não é?
Pode alguém ser quem não é?
Seja um bom agoiro
ou seja um mau pressagio
sonhei com o choro
de alguém num naufragio
nao tenho confiança
já cansa este esperar
por uma carta em vão
“por cá me governo”
escreveu-me então
“aqui é quase Inverno
aí quase Verão
mês d’Abril, aguas mil
no Brasil também tem
noites de S. João e mar”
Pode alguém ser quem não é?
É estranho no ventre
ser de outro lugar
e tão confusamente
ver desmoronar
um a um sonhos sãos
duas mãos
passando da alegria ao desamor
Pode alguém ser livre
se outro alguém não é
a algema dum outro
serve-me no pé
nas duas mãos,
sonhos vãos, pesadelos
diz-me:
Pode alguém ser quem nao é?"
Sérgio Godinho
diga o que lhe dói
é dor ou saudade
que o peito lhe rói
o que tem, o que foi
o que dói no peito?
- É que o meu homem partiu
Disse-me na praia
frente ao paredao
“tira a tua saia
da-me a tua mão
o teu corpo, o teu mar
teu andar, teu passo
que vai sobre as ondas, vem”
Pode alguém ser quem não é?
Pode alguém ser quem não é?
Pode alguém ser quem não é?
Seja um bom agoiro
ou seja um mau pressagio
sonhei com o choro
de alguém num naufragio
nao tenho confiança
já cansa este esperar
por uma carta em vão
“por cá me governo”
escreveu-me então
“aqui é quase Inverno
aí quase Verão
mês d’Abril, aguas mil
no Brasil também tem
noites de S. João e mar”
Pode alguém ser quem não é?
É estranho no ventre
ser de outro lugar
e tão confusamente
ver desmoronar
um a um sonhos sãos
duas mãos
passando da alegria ao desamor
Pode alguém ser livre
se outro alguém não é
a algema dum outro
serve-me no pé
nas duas mãos,
sonhos vãos, pesadelos
diz-me:
Pode alguém ser quem nao é?"
Sérgio Godinho
23 maio, 2006
Desejos
e pensar que eu só queria
coisas poucas, pequenas
e prováveis:
gelados à beira-mar plantados,
piqueniques à luz do dia,
segredos doces,
doces embalos,
abraços apertados,
chuvas de verão,
pijamas velhos,
lençóis lavados,
ouvidos atentos
ao tic-tac do coração,
músicas leves,
momentos raros,
murmúrios breves,
sorrisos claros,
silêncios prolongados
na palma da mão...
a tua mão na minha,
anjos distraídos,
desejos puros,
sumo de limão.
coisas poucas, pequenas
e prováveis:
gelados à beira-mar plantados,
piqueniques à luz do dia,
segredos doces,
doces embalos,
abraços apertados,
chuvas de verão,
pijamas velhos,
lençóis lavados,
ouvidos atentos
ao tic-tac do coração,
músicas leves,
momentos raros,
murmúrios breves,
sorrisos claros,
silêncios prolongados
na palma da mão...
a tua mão na minha,
anjos distraídos,
desejos puros,
sumo de limão.
fotografia de Pedro Gonio retirada daqui
"«Todo Fluye», dijo Heráclito. Todo está en movimiento y nada dura eternamente. Por eso no podemos «descender dos veces al mismo río», pues cuando desciendo al río por segunda vez, ni yo ni el río somos los mismos."
El mundo de Sofía, Jostein Gaarder
até as esperas, momentos em que aparentemente paramos (às vezes
porque precisamos, às vezes porque não sabemos o que fazer,
às vezes porque os outros precisam e nos afastamos
lentamente até existir ar suficiente entre nós
para podermos ambos respirar) são
momentos de movimento,
lento movimento
do tempo
que
passa
sem cessar.
Parar para aprender
a estar em silêncio. Parar para
deixar passar as nuvens e voltar a ver claro.
Parar para olhar o sofrimento de frente e procurar
nele um caminho de renovação. Parar para crescer por dentro.
Parar para me tornar um mundo melhor para alguém.
Parar dificilmente será estar parado...
no fim, nem eu nem o rio seremos os mesmos.
22 maio, 2006
Hoje ao som dos Toranja:
"Quebramos os dois
Eu a convencer-te que gostas de mim,
Tu a convenceres-te que não é bem assim.
Eu a mostrar-te o meu lado mais puro,
Tu a argumentares os teus inevitáveis.
Eras tu a dançares em pleno dia,
E eu encostado como quem não vê.
Eras tu a falar para esconder a saudade,
E eu a esconder-me do que não se dizia.
Afinal...
Quebramos os dois afinal.
Quebramos os dois...
Desviando os olhos por sentir a verdade,
Juravas a certeza da mentira,
Mas sem queimar de mais,
Sem querer extingir o que já se sabia.
Eu fugia do toque como do cheiro,
Por saber que era o fim da roupa vestida,
Que inventara no meio do escuro onde estava,
Por ver o desespero na côr que trazias.
Afinal...
Quebramos os dois afinal.
Quebramos os dois afinal.
Quebramos os dois afinal.
Quebramos os dois...
Era eu a despir-te do que era pequeno,
Tu a puxar-me para um lado mais perto,
Onde se contam histórias que nos atam,
Ao silêncio dos lábios que nos mata.
Eras tu a ficar por não saberes partir,
E eu a rezar para que desaparecesses,
Era eu a rezar para que ficasses,
Tu a ficares enquanto saías.
Não nos tocamos enquanto saías,
Não nos tocamos enquanto saímos,
Não nos tocamos e vamos fugindo,
Porque quebramos como crianças.
Afinal...
Quebramos os dois afinal.
Quebramos os dois afinal.
Quebramos os dois...
É quase pecado que se deixa.
Quase pecado que se ignora."
"Quebramos os dois
Eu a convencer-te que gostas de mim,
Tu a convenceres-te que não é bem assim.
Eu a mostrar-te o meu lado mais puro,
Tu a argumentares os teus inevitáveis.
Eras tu a dançares em pleno dia,
E eu encostado como quem não vê.
Eras tu a falar para esconder a saudade,
E eu a esconder-me do que não se dizia.
Afinal...
Quebramos os dois afinal.
Quebramos os dois...
Desviando os olhos por sentir a verdade,
Juravas a certeza da mentira,
Mas sem queimar de mais,
Sem querer extingir o que já se sabia.
Eu fugia do toque como do cheiro,
Por saber que era o fim da roupa vestida,
Que inventara no meio do escuro onde estava,
Por ver o desespero na côr que trazias.
Afinal...
Quebramos os dois afinal.
Quebramos os dois afinal.
Quebramos os dois afinal.
Quebramos os dois...
Era eu a despir-te do que era pequeno,
Tu a puxar-me para um lado mais perto,
Onde se contam histórias que nos atam,
Ao silêncio dos lábios que nos mata.
Eras tu a ficar por não saberes partir,
E eu a rezar para que desaparecesses,
Era eu a rezar para que ficasses,
Tu a ficares enquanto saías.
Não nos tocamos enquanto saías,
Não nos tocamos enquanto saímos,
Não nos tocamos e vamos fugindo,
Porque quebramos como crianças.
Afinal...
Quebramos os dois afinal.
Quebramos os dois afinal.
Quebramos os dois...
É quase pecado que se deixa.
Quase pecado que se ignora."
menti. estou presa no presente.
não tenho outro momento que não seja aqui.
não tenho outro lugar que não seja agora.
fotografia de Guilherme Limas retirada daqui
20 maio, 2006
A song unsung
Do you see?
Are you for real?
Can you hear?
Will you be here?
Can you feel?
Is pain in vain?
I’m holding on to you
Quietly waiting in line,
Someday I’ll wake up
And feel fine,
Won’t I?
Tonight I’m all alone
With my fears
Tonight I touch the bone
With my tears
Tonight I miss your smile
and the rain,
and that day
when all was right
and clear.
Are you away
Just for a while?
Or are you always out of time?
I would offer you my day though
None of my days are mine.
I could repeat myself
And ask again:
Can you feel?
Will you be here?
Can you hear?
Are you for real?
Do you see
I can’t hold still?
I keep asking
I keep trying
I keep breading
I keep crying
I keep bleeding
I keep dying
I keep running
Everyday,
Trying to understand what you say
When you say nothing.
I keep hoping that your skin
Or the wind
Will make me feel real...
someday...
somewhere...
somehow...
someway...
Are you for real?
Can you hear?
Will you be here?
Can you feel?
Is pain in vain?
I’m holding on to you
Quietly waiting in line,
Someday I’ll wake up
And feel fine,
Won’t I?
Tonight I’m all alone
With my fears
Tonight I touch the bone
With my tears
Tonight I miss your smile
and the rain,
and that day
when all was right
and clear.
Are you away
Just for a while?
Or are you always out of time?
I would offer you my day though
None of my days are mine.
I could repeat myself
And ask again:
Can you feel?
Will you be here?
Can you hear?
Are you for real?
Do you see
I can’t hold still?
I keep asking
I keep trying
I keep breading
I keep crying
I keep bleeding
I keep dying
I keep running
Everyday,
Trying to understand what you say
When you say nothing.
I keep hoping that your skin
Or the wind
Will make me feel real...
someday...
somewhere...
somehow...
someway...
19 maio, 2006
Leituras II
tão pouco tempo e tanto que contar.
decido continuar a citar os livros que ando a ler, como que abrindo portas de um vasto corredor... tantos quartos por desvendar.
"-Mitch não me permito mais auto-piedade do que isso. Um bocadinho cada manhã, umas poucas lágrimas, e pronto.
Pensei nas pessoas que conhecia que passavam muitas das suas horas de vigília a sentir pena de si mesmas. Que útil seria colocar um limíte de auto-piedade para cada dia. Apenas uns minutos lacrimosos, e depois vamos à vida. E se Morrie conseguia fazê-lo com a sua horrível doença...
-Só é horrível se a vires assim - disse Morrie - É horrível ver o meu corpo definhar lentamente até se tornar em nada. Mas também é maravilhoso todo este tempo para dizer adeus.
Sorriu.
-Nem toda a gente tem tanta sorte."
As Terças com Morrie, Mitch Albom
"Vivera um tempo de guerra em que tudo o que dava a ver aos que o rodeavam era mentira. Sentira-se como alguém escondido num quarto às escuras, a imitar o gorjeio de um pássaro.
Mas aqui viam-se despojados da sua pele. Não conseguiam imitar coisa nenhuma excepto aquilo que eram. Não havia outra defesa senão a de procurar a verdade nos outros."
O doente Inglês, Michael Ondaatje
às vezes no comboio...
ou na rua alguém ao passar...
mas principalmente
quando alguém se detém à porta
sem entrar, páro por instantes
de respirar, e desejo que sejas tu...
quando reparo que não és
(embora às vezes me pareça
que em alguns um canto do teu olhar
ou um quarto do teu sorriso)
volto a respirar devagar,
às vezes por vários dias
ou por várias horas,
ou até voltares a passar
nos olhos, no sorriso, ou na voz de alguém.
fotografia de Elisandra Amoedo encontrada aqui
Bom dia
Hoje uma sexta-feira diferente porque mais parecida com os outros dias. como o curso de catálise começa às 11h podia ter aproveitado para dormir até mais tarde, mas chego ao lab. à hora do costume para ainda fazer umas "coisinhas" antes de entrar nesse outro mundo. No comboio leio o livro do costume, continuo a viagem ao interior do mundo das personagens. No caminho os meus pés ressentem-se da sola dura das sandálias, mas sabe-me bem o ar frio nos pés (pela primeira vez este ano) e é como se os meus pés descobrissem hoje o caminho que eu já conheço há muito mas eles não. No caminho caras que já conheço e outras novas e em cada uma adivinho os pequenos grandes desafios deste novo dia, naquela criança, naquela professora, naquele pai, naquele jovem, naquele velho. Em cada um pressinto as suas "pequenas" dores, os seus grandes amores, os seus medos assustadores. Cada um vibrando a uma diferente frequência a promessa deste novo dia, cada um contribuindo para o silencioso ruído da rede humana da cidade, como se não se tocassem, como se não se vissem, como se não chorassem as mesmas lágrimas às vezes.
Hoje um novo dia, com as suas chegadas e partidas, as suas conquintas e derrotas, as suas tristezas e alegrias.
Façam deste dia, um bom dia. Como dizia um amigo no outro dia, à partida os acontecimentos são nulos, tudo depende do que fazemos com eles...
18 maio, 2006
Leituras
ultimamente ando numa fase de leitura
(imagine-se se andasse numa fase de escrita)
por isso em vez de escrever, hoje deixo aqui duas passagens, uma de cada livro que ando a ler (pois é ando a ler dois livros... mas com regras... um só leio no comboio, o outro só leio em casa, antes de dormir, agora qual é qual?... não vou desvendar)
"-A coisa mais importante na vida é aprender como dar amor, e como deixá-lo entrar.
A sua voz baixou para um sussurro.
-Deixa-o entrar. Nós pensamos que não merecemos amor, pensamos que, se o deixarmos entrar, nos tornamos moles demais. Mas um homem sábio chamado Levine disse-o bem. «O amor é o único acto racional.»
Repetiu-o cuidadosamente, pausadamente, para fazer efeito.
-«O amor é o único acto racional»."
As Terças com Morrie, Mitch Albom
"-Julguei que ia morrer. Queria morrer. E julguei que se fosse morrer ia morrer contigo. Rapazes como tu, jovens como eu... vi morrer tantos ao pé de mim durante o ano passado! Não tive medo nenhum. Não foi coragem o que ainda agora me fez aqui ficar. Pensei com os meus botões: Temos esta casa, esta erva, devíamos ter-nos deitado juntos, abraçados, antes de morrer. Apetece-me tocar-te nesse osso do pescoço, na clavícula, que parece uma asa pequena e dura debaixo da tua pele. Sempre gostei de corpos da cor dos rios e das pedras, da cor do olho castanho de uma susana, conheces essa flor? Já viste alguma? Estou tão cansada, Kip, só me apetece dormir. Apetece-me dormir debaixo desta árvore, de cara encostada à tua clavícula, apetece-me fechar os olhos, sem pensar em mais ninguém, encontrar um nicho de árvore, trepar lá para dentro e dormir."
O doente inglês, Michael Ondaatje
17 maio, 2006
lagos e furacões...
Como uma pedra ao cair num lago, parece coisa pouca, mas provoca ondas que percorrem todo o lago até desaparecerem e deixarem tudo aparentemente igual, basta uma palavra, um des-olhar, um des-amor para abalar o estado fundamental de equilíbrio e deixar alguém num estado menos estável, embora aparentemente igual, para quem está de fora.
As mulheres, de uma maneira geral, são peritas em entrar nestes estados meta-estáveis... não se vêem por fora, são indecifráveis, indetectáveis, mas coitado do triste que agitar a superfície da água, ainda que seja, como na maior parte das vezes é, sem intenção...
Claro que, há dias e dias, há dias em que várias pedras não fazem nada, e outros em que um arranhão é sentido com a intensidade de um choque frontal entre dois elementos (aqui falta-me a palavra, será objectos,... sei lá, veículos... nada me soa bem) a grande velocidade... toda a energia potencial acumulada no interior do lago é rapidamente convertida em furacão...
O tal azarado de à bocado acha a reacção exagerada claro está, mas se o disser é capaz de piorar a sua, já desfavorável, situação. Enfim... as relações humanas não são fáceis. É recomendado que se sirvam com abundância de paciência e de perdão...
Não esquecer que cada caso é um caso, e que não há uma resposta mágica que sirva para todos os furacões... há os que se sentem bem com o silêncio e os que não o suportam, há os que se acalmam com uma postura submissa e os que sentem nela uma provocação...
Para os que tiverem que se confrontar com esta situação, 3 conselhos sempre úteis: sair a correr não é a melhor solução; dar atenção/ouvir (sem olhar para o relógio/telemóvel, claro, mas isto é óbvio... não é?) não custa muito e costuma ter efeitos surpreendentes; não mentir, mas também não abusar da sinceridade... há formas melhores e piores de dizer as coisas. O que é preciso é inspiração...
Com o tempo também nos vamos conhecendo melhor a nós próprias e conseguimos detectar os sinais da tempestade a tempo de a evitar... ou então não... (as hormonas não ajudam...)
Seja como fôr, as razões são quase sempre pequenas para ficarmos zangados com alguém muito tempo. O rancor é uma planta que se infiltra no coração se lhe dermos espaço...
Há tantas coisas melhores para fazer, comer gelados, passear à beira-mar, "perder" as horas a conversar... não vale mesmo a pena perdermos tempo com coisas mesquinhas e pequenas. convém começar já hoje a perdoar (porque perdoar pode demorar... quanto mais cedo se começar melhor)
As mulheres, de uma maneira geral, são peritas em entrar nestes estados meta-estáveis... não se vêem por fora, são indecifráveis, indetectáveis, mas coitado do triste que agitar a superfície da água, ainda que seja, como na maior parte das vezes é, sem intenção...
Claro que, há dias e dias, há dias em que várias pedras não fazem nada, e outros em que um arranhão é sentido com a intensidade de um choque frontal entre dois elementos (aqui falta-me a palavra, será objectos,... sei lá, veículos... nada me soa bem) a grande velocidade... toda a energia potencial acumulada no interior do lago é rapidamente convertida em furacão...
O tal azarado de à bocado acha a reacção exagerada claro está, mas se o disser é capaz de piorar a sua, já desfavorável, situação. Enfim... as relações humanas não são fáceis. É recomendado que se sirvam com abundância de paciência e de perdão...
Não esquecer que cada caso é um caso, e que não há uma resposta mágica que sirva para todos os furacões... há os que se sentem bem com o silêncio e os que não o suportam, há os que se acalmam com uma postura submissa e os que sentem nela uma provocação...
Para os que tiverem que se confrontar com esta situação, 3 conselhos sempre úteis: sair a correr não é a melhor solução; dar atenção/ouvir (sem olhar para o relógio/telemóvel, claro, mas isto é óbvio... não é?) não custa muito e costuma ter efeitos surpreendentes; não mentir, mas também não abusar da sinceridade... há formas melhores e piores de dizer as coisas. O que é preciso é inspiração...
Com o tempo também nos vamos conhecendo melhor a nós próprias e conseguimos detectar os sinais da tempestade a tempo de a evitar... ou então não... (as hormonas não ajudam...)
Seja como fôr, as razões são quase sempre pequenas para ficarmos zangados com alguém muito tempo. O rancor é uma planta que se infiltra no coração se lhe dermos espaço...
Há tantas coisas melhores para fazer, comer gelados, passear à beira-mar, "perder" as horas a conversar... não vale mesmo a pena perdermos tempo com coisas mesquinhas e pequenas. convém começar já hoje a perdoar (porque perdoar pode demorar... quanto mais cedo se começar melhor)
16 maio, 2006
Hoje
As minhas tentativas de limpar o eléctrodo foram infrutíferas,
não me obedece.
Estou cansada, um cansaço difícil de contar, impossível de localizar.
Por isso deixo o laboratório no mesmo lugar (sei que estará cá amanhã)
e desligo o computador.
Amanhã encho-me de paciência, respiro fundo e começo tudo de novo.
Hoje vou encontrar o vento, hoje vou ver o mar.
15 maio, 2006
P.S.
gosto de portos seguros,
gosto de conduzir de manhã cedo,
gosto de andar à chuva,
gosto de banhos de água fria,
gosto de pequenos pormenores,
gosto de provocar,
gosto de arriscar,
gosto de abraços apertados,
gosto de dançar de olhos fechados,
gosto de sonhos grandes,
gosto de gavetas de tralha,
gosto de ler um livro até ao fim,
gosto de albuns de fotografias,
gosto de lágrimas disfarçadas,
gosto de famílias barulhentas,
gosto de teatro, cinema, música e poesia,
gosto de viver,
gosto de pensar um dia de cada vez,
gosto do mar,
da terra,
mas principalmente,
gosto de gente.
gosto de conduzir de manhã cedo,
gosto de andar à chuva,
gosto de banhos de água fria,
gosto de pequenos pormenores,
gosto de provocar,
gosto de arriscar,
gosto de abraços apertados,
gosto de dançar de olhos fechados,
gosto de sonhos grandes,
gosto de gavetas de tralha,
gosto de ler um livro até ao fim,
gosto de albuns de fotografias,
gosto de lágrimas disfarçadas,
gosto de famílias barulhentas,
gosto de teatro, cinema, música e poesia,
gosto de viver,
gosto de pensar um dia de cada vez,
gosto do mar,
da terra,
mas principalmente,
gosto de gente.
gosto de me molhar quando vou à fonte buscar água,
gosto de sumo de cenoura e de queijo com quase tudo,
gosto de vir a pé para a faculdade,
e de parar às vezes no meio do caminho simplesmente para estar,
gosto de observar as pessoas que passam por mim sem olhar,
gosto de ouvir certas músicas quando estou triste,
gosto de escrever, sobre muitas coisas, ou sobre quase nada,
gosto de conversas inofensivas, às vezes,
e de filmes "de gaijas" (que fazem chorar)
gosto de chocolate e de gelado e de iogurte com bolachas,
gosto sentir o vento frio na cara quando me dói a cabeça de não perceber,
gosto de me rir das conversas de sempre e das piadas de sempre
dos meus amigos,
gosto de conversar sobre questões existenciais que na prática não levam a lado nenhum,
e estão tão tão tão longe da vida real,
gosto de fazer certas coisas sozinha,
gosto de ouvir a nina simone a cantar,
gosto das piadas do luís
e dos palavrões que ele diz quando está irritado,
gosto da gargalhada da daisy
e do seu coração enorme,
gosto de ouvir a isabel falar das suas paixões,
e de a ver dançar,
gosto das conversas de pé de orelha com a susana e a ana luísa,
da capacidade da ana se impor devagar,
e do instinto maternal da susana,
gosto das idas para coimbra com o fred e o joão
(embora passe a viagem toda a dormir)
gosto de discordar das teorias do joão,
e da sua postura séria ao aconselhar,
gosto da sabedoria silenciosa e prática do fred,
gosto das loucas loucuras do rui,
dos comentários incisivos da gabriela
e da presença serena da andreia,
gosto desta família desordenada que somos,
gosto quando nos tornarmos todas donas de casa de faz de conta em chaves,
gosto de beber o vinho do porto com os rapazes,
gosto dos lanches com a denise e o miguel,
das mil viagens que planeamos juntos
e das conversas enormes e que às vezes parecem não chegar a nenhum lugar,
gosto da luz do miguel
e da objectividade e clarividência da denise,
gosto de passeios à beira-mar,
gosto de conversas fora de horas,
gosto de capuccino, chocolate quente e cházinho
(nota: não é tudo junto, é cada um a seu tempo)
gosto de livros e filmes com profundidade,
gosto de conseguir fazer pequenas coisas que tinha decidido fazer,
gosto da sensação de dever cumprido e consciência tranquila,
gosto do cheiro do campo e do canto dos pássaros,
gosto de andar de bicicleta ao fim da tarde,
gosto de ti embora não o saiba dizer,
gosto de querer estar perto mesmo quando não tenho nada para dizer,
gosto de decisões difíceis, que de tão difíceis, não são decisões
são longos processos de descoberta de nós próprios e dos outros,
gosto desta teia de relações que se estabelecem de dentro para fora
como imensos braços que estendo em todas as direcções
como uma estrela do mar,
gosto de conhecer a minha solidão e de saber que ninguém a vai preencher,
gosto de acreditar que há um espaço onde duas solidões se podem tocar,
gosto de pessoas da aldeia, com a sua simplicidade à flor da pele,
gosto de me rir na cara da tristeza quando ela me ronda devagar,
gosto de me descobrir capaz de abdicar,
gosto de procurar o essencial,
gosto de liberdade responsável,
gosto de ser original,
gosto de não gostar de estar na moda,
e de não seguir a corrente,
gosto de "não curtir a vida",
mas sim levá-la a sério,
gosto de ouvir histórias de pessoas mais velhas,
gosto de gelados, faça chuva, ou faça sol,
gosto de pequenos rituais que me fazem sentir em casa,
gosto de estar fora de casa...
e depois voltar,
gosto das ideias claras do P. jorge,
e da sua constante correria contra o tempo,
e da forma delicada com que nos faz sentir próximos e família,
gosto da postura tímida e maternal da helena,
gosto da forma como a beatriz entrelaça as mãos quando está a falar,
gosto da ânsia de fazer e de contar e de avançar do paulo,
gosto da companhia da ângela e da sua vontade de querer estar,
e da forma elegante como se aproxima devagar,
sempre desejando ajudar,
gosto de ter uma família em cada lugar,
gosto de não falar muito e de ficar até tarde,
pelo simples prazer de estar,
gosto de cantar, à noite, à tarde, ao acordar...
gosto da profundidade da catarina,
gosto da força interior da antónia,
da sua capacidade de concretizar sonhos pequenos e grandes,
um de cada vez,
gosto da ingenuidade do manel,
do romantismo do pai,
da voz e da vocação definida da teresa,
da transparência da sara
e da força da mãe,
gosto daqueles de quem me esqueço,
daqueles que passaram e não voltaram,
e até daqueles que ainda não conheço.
gosto de sumo de cenoura e de queijo com quase tudo,
gosto de vir a pé para a faculdade,
e de parar às vezes no meio do caminho simplesmente para estar,
gosto de observar as pessoas que passam por mim sem olhar,
gosto de ouvir certas músicas quando estou triste,
gosto de escrever, sobre muitas coisas, ou sobre quase nada,
gosto de conversas inofensivas, às vezes,
e de filmes "de gaijas" (que fazem chorar)
gosto de chocolate e de gelado e de iogurte com bolachas,
gosto sentir o vento frio na cara quando me dói a cabeça de não perceber,
gosto de me rir das conversas de sempre e das piadas de sempre
dos meus amigos,
gosto de conversar sobre questões existenciais que na prática não levam a lado nenhum,
e estão tão tão tão longe da vida real,
gosto de fazer certas coisas sozinha,
gosto de ouvir a nina simone a cantar,
gosto das piadas do luís
e dos palavrões que ele diz quando está irritado,
gosto da gargalhada da daisy
e do seu coração enorme,
gosto de ouvir a isabel falar das suas paixões,
e de a ver dançar,
gosto das conversas de pé de orelha com a susana e a ana luísa,
da capacidade da ana se impor devagar,
e do instinto maternal da susana,
gosto das idas para coimbra com o fred e o joão
(embora passe a viagem toda a dormir)
gosto de discordar das teorias do joão,
e da sua postura séria ao aconselhar,
gosto da sabedoria silenciosa e prática do fred,
gosto das loucas loucuras do rui,
dos comentários incisivos da gabriela
e da presença serena da andreia,
gosto desta família desordenada que somos,
gosto quando nos tornarmos todas donas de casa de faz de conta em chaves,
gosto de beber o vinho do porto com os rapazes,
gosto dos lanches com a denise e o miguel,
das mil viagens que planeamos juntos
e das conversas enormes e que às vezes parecem não chegar a nenhum lugar,
gosto da luz do miguel
e da objectividade e clarividência da denise,
gosto de passeios à beira-mar,
gosto de conversas fora de horas,
gosto de capuccino, chocolate quente e cházinho
(nota: não é tudo junto, é cada um a seu tempo)
gosto de livros e filmes com profundidade,
gosto de conseguir fazer pequenas coisas que tinha decidido fazer,
gosto da sensação de dever cumprido e consciência tranquila,
gosto do cheiro do campo e do canto dos pássaros,
gosto de andar de bicicleta ao fim da tarde,
gosto de ti embora não o saiba dizer,
gosto de querer estar perto mesmo quando não tenho nada para dizer,
gosto de decisões difíceis, que de tão difíceis, não são decisões
são longos processos de descoberta de nós próprios e dos outros,
gosto desta teia de relações que se estabelecem de dentro para fora
como imensos braços que estendo em todas as direcções
como uma estrela do mar,
gosto de conhecer a minha solidão e de saber que ninguém a vai preencher,
gosto de acreditar que há um espaço onde duas solidões se podem tocar,
gosto de pessoas da aldeia, com a sua simplicidade à flor da pele,
gosto de me rir na cara da tristeza quando ela me ronda devagar,
gosto de me descobrir capaz de abdicar,
gosto de procurar o essencial,
gosto de liberdade responsável,
gosto de ser original,
gosto de não gostar de estar na moda,
e de não seguir a corrente,
gosto de "não curtir a vida",
mas sim levá-la a sério,
gosto de ouvir histórias de pessoas mais velhas,
gosto de gelados, faça chuva, ou faça sol,
gosto de pequenos rituais que me fazem sentir em casa,
gosto de estar fora de casa...
e depois voltar,
gosto das ideias claras do P. jorge,
e da sua constante correria contra o tempo,
e da forma delicada com que nos faz sentir próximos e família,
gosto da postura tímida e maternal da helena,
gosto da forma como a beatriz entrelaça as mãos quando está a falar,
gosto da ânsia de fazer e de contar e de avançar do paulo,
gosto da companhia da ângela e da sua vontade de querer estar,
e da forma elegante como se aproxima devagar,
sempre desejando ajudar,
gosto de ter uma família em cada lugar,
gosto de não falar muito e de ficar até tarde,
pelo simples prazer de estar,
gosto de cantar, à noite, à tarde, ao acordar...
gosto da profundidade da catarina,
gosto da força interior da antónia,
da sua capacidade de concretizar sonhos pequenos e grandes,
um de cada vez,
gosto da ingenuidade do manel,
do romantismo do pai,
da voz e da vocação definida da teresa,
da transparência da sara
e da força da mãe,
gosto daqueles de quem me esqueço,
daqueles que passaram e não voltaram,
e até daqueles que ainda não conheço.
12 maio, 2006
10 maio, 2006
Urgentemente
É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
Eugénio de Andrade
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
Eugénio de Andrade
na solidão das coisas inevitáveis sinto a urgência da vida. o dia de hoje nao se repetirá amanhã. o que nao cantei, ou não ri ou não chorei hoje, nao vou cantar ou rir ou chorar amanhã. hoje há todo um mundo que se acaba. posso adiar-me? posso adiar-te a ti? no entanto dir-me-ás talvez, e com razão, que não é justo que te invada a paz com a minha dor, ou que grite sem razão gosto de ti. pois se está tudo tão bem assim. nesta aparente paz de pequenos passos sempre repetidos. neste lugar antigo, tão antigo que já nao sei bem se não sou eu já que o trago comigo.
hoje é mais um dia em que nao farei.
queria eu ser capaz de te dizer: vai-te embora! vai-te embora agora! não venhas amanhã, não venhas à mesma hora, não venhas mais. se fores amanhã cairei dois palmos de ar, daqui a um mês cairei do quarto andar.
queria eu poder dizer-te: vai-te embora já! mas tenho medo que o consigas fazer.
por isso hoje não faço nada e amanhã nada farei. e no entanto esta urgência cá estará para me roer um pouco mais. esta urgência de viver que não se cala, que não se pára, que não se vai.
09 maio, 2006
O meu avô tem mãos
Que sabem de cor a cor da terra.
O meu avô tem orelhas grandes
Porque foram crescendo lentamente
A vida inteira
O meu avô sabe fazer crescer uma planta noutra planta,
Sabe o tempo de semear milho
E o tempo de apanhar batatas.
O meu avô conhece as casas e os campos
E o nome das pessoas que os habitam.
O meu avô conhece cada alguém
Pela árvore genealógica: todos são
Filhos do tio do primo de não sei quem.
O meu avô antecipa o tempo que vai fazer
No ano inteiro, pelo tempo que faz
Nos últimos dias de Dezembro e nos primeiros de Janeiro.
O meu avô quando diz ai, não diz ai,
Diz Aaaaaaaaaaaida, porque talvez um dia, não sei,
Alguma empregada chamada Aida...
O meu avô chega sempre cedo,
E vai sempre à missa à mesma hora.
O meu avô vai a concertos que não percebe muito bem,
(E senta-se ao meu lado)
Mesmo que as vezes esteja cansado demais.
O meu avô sabe que ramo da videira deixar
E que ramo da videira podar.
O meu avô conhece a voz de dor
E a voz de fome dos animais.
O meu avô sabe fazer vinho das uvas,
Leite das vacas, frutos da terra
E outras magias mais.
O meu avô...
Que sabem de cor a cor da terra.
O meu avô tem orelhas grandes
Porque foram crescendo lentamente
A vida inteira
O meu avô sabe fazer crescer uma planta noutra planta,
Sabe o tempo de semear milho
E o tempo de apanhar batatas.
O meu avô conhece as casas e os campos
E o nome das pessoas que os habitam.
O meu avô conhece cada alguém
Pela árvore genealógica: todos são
Filhos do tio do primo de não sei quem.
O meu avô antecipa o tempo que vai fazer
No ano inteiro, pelo tempo que faz
Nos últimos dias de Dezembro e nos primeiros de Janeiro.
O meu avô quando diz ai, não diz ai,
Diz Aaaaaaaaaaaida, porque talvez um dia, não sei,
Alguma empregada chamada Aida...
O meu avô chega sempre cedo,
E vai sempre à missa à mesma hora.
O meu avô vai a concertos que não percebe muito bem,
(E senta-se ao meu lado)
Mesmo que as vezes esteja cansado demais.
O meu avô sabe que ramo da videira deixar
E que ramo da videira podar.
O meu avô conhece a voz de dor
E a voz de fome dos animais.
O meu avô sabe fazer vinho das uvas,
Leite das vacas, frutos da terra
E outras magias mais.
O meu avô...
04 maio, 2006
a morte espreita-nos a cada esquina, tão certa como o facto de estarmos vivos, tão certa como respirar. "alguém morre de fome a cada 3 segundos" diziam no outro dia... uma frase impossível de racionalizar, mais ou menos como dizer que o universo é infinito e está em expansão... quantas vezes passaram 3 segundos desde que comecei a escrever? quantas vezes passaram 3 segundos desde que começaste a ler?
a maior parte do tempo nem nos lembramos dela, preenchemos o tempo com muitas pequenas coisas pouco importantes e deixamos outras tantas pequenas coisas às vezes mais importantes por fazer.
então de repente ela surge mais perto, efectiva ou apenas rondando... alguém mais ou menos conhecido, mais ou menos próximo... e torna tudo relativo, faz voltar questões que se tenta esquecer ou evitar...
será que o que faço me realiza? será que estou a fazer as escolhas certas? será que estou a dar importancia às coisas certas?
será que vale a pena correr tanto?
hoje está sol. talvez devesse sair mais cedo e andar a pé. talvez devesse increver-me no ioga ou em aulas de danças de salão. talvez devesse visitar alguém que não vejo há muito, ou escrever uma carta que ando a adiar. talvez devesse parar para pensar e mudar de direcção...
hoje não é cedo demais para mudar
02 maio, 2006
"Lembro-me agora que tenho de marcar um
encontro contigo, num sítio em que ambos
nos possamos falar, de facto, sem que nenhuma
das ocorrências da vida venha
interferir no que temos para nos dizer. Muitas
vezes me lembrei de que esse sítio podia
ser até um lugar sem nada de especial
como um canto de café, em frente de um espelho
que poderia servir de pretexto
para reflectir a alma, a impressão da tarde,
o último estertor do dia antes de nos despedirmos,
quando é preciso encontrar uma fórmula que
disfarce o que, afinal, não conseguimos dizer. É
que o amor nem sempre é uma palavra de uso,
aquela que permite a passagem à comunicação
mais exacta de dois seres, a não ser que nos fale,
de súbito, o sentido da despedida e que cada um de nós
leve consigo o outro deixando atrás de si o próprio
ser, como se uma troca de almas fosse possível
neste mundo. Então, é natural que voltes atrás e
me peças: "Vem comigo!", e devo dizer-te que muitas
vezes pensei em fazer isso mesmo, mas era tarde,
isto é, a porta tinha-se fechado até outro
dia que é aquele que acaba por nunca chegar, e então
as palavras caiem no vazio, como se nunca tivessem
sido pensadas. No entanto, ao escrever-te para marcar
um encontro contigo, sei que é irremediável o que temos
para dizer um ao outro: a confissão mais exacta, que
é também a mais absurda, de um sentimento; e por
isso, de que o mundo há-de ser outro no dia
seguinte, como se o amor de facto pudesse mudar as cores
do céu, do mar, da terra, e do próprio dia em que nos vamos
encontrar, que há-de ser um dia azul, de verão, em que
o vento poderá soprar do norte, como se fosse daí
que viessem, nesta altura, as coisas mais precisas,
que são as nossas: o verde das folhas e o amarelo
das pétalas, o vermelho do sol e o branco dos muros."
Nuno Júdice
encontro contigo, num sítio em que ambos
nos possamos falar, de facto, sem que nenhuma
das ocorrências da vida venha
interferir no que temos para nos dizer. Muitas
vezes me lembrei de que esse sítio podia
ser até um lugar sem nada de especial
como um canto de café, em frente de um espelho
que poderia servir de pretexto
para reflectir a alma, a impressão da tarde,
o último estertor do dia antes de nos despedirmos,
quando é preciso encontrar uma fórmula que
disfarce o que, afinal, não conseguimos dizer. É
que o amor nem sempre é uma palavra de uso,
aquela que permite a passagem à comunicação
mais exacta de dois seres, a não ser que nos fale,
de súbito, o sentido da despedida e que cada um de nós
leve consigo o outro deixando atrás de si o próprio
ser, como se uma troca de almas fosse possível
neste mundo. Então, é natural que voltes atrás e
me peças: "Vem comigo!", e devo dizer-te que muitas
vezes pensei em fazer isso mesmo, mas era tarde,
isto é, a porta tinha-se fechado até outro
dia que é aquele que acaba por nunca chegar, e então
as palavras caiem no vazio, como se nunca tivessem
sido pensadas. No entanto, ao escrever-te para marcar
um encontro contigo, sei que é irremediável o que temos
para dizer um ao outro: a confissão mais exacta, que
é também a mais absurda, de um sentimento; e por
isso, de que o mundo há-de ser outro no dia
seguinte, como se o amor de facto pudesse mudar as cores
do céu, do mar, da terra, e do próprio dia em que nos vamos
encontrar, que há-de ser um dia azul, de verão, em que
o vento poderá soprar do norte, como se fosse daí
que viessem, nesta altura, as coisas mais precisas,
que são as nossas: o verde das folhas e o amarelo
das pétalas, o vermelho do sol e o branco dos muros."
Nuno Júdice
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