11 dezembro, 2008


O tempo mostra-me que as horas de aulas que estão no horário se multiplicam fora do horário: horas para preparar as aulas, horas para corrigir trabalhos, horas para escrever planificações e avaliações, horas para reuniões, horas para procurar e comprar material, horas para ir e para voltar. Acaba por sobrar pouco tempo, pouco mas que ainda chega para os ensaios coro, os ensaios da festa de natal da catequese, o atelier de escrita criativa, tempo para ouvir "Dreams in colour" do David Fonseca...













tempo para ler os "Contos de Beedle o Bardo" de J. K. Rowling...
















tempo para apreciar as cores do poente quando volto para casa, tempo para estar em silêncio, tempo para beber chocolate quente, tempo para almoços e jantares de natal, tempo para passear com a família.
Só não sobra tempo para arrumar o quarto... estranho...


David Fonseca - Kiss me, Oh kiss me


Como se faz uma canção? Este vídeo dava uma boa aula:)

20 novembro, 2008

Entre les murs - A turma


Numa época em que tanto se fala e se discute o ensino em Portugal, recomenda-se um filme francês que ganhou a Palma de Ouro em Cannes... Entre les murs
Um documentário ficcional: uma turma multiétnica e um professor de francês em eterna negociação, tentando coordenar regras e sentimentos, ensino e diálogo, liberdade e disciplina. Um retrato fascinante dos desafios e das dificuldades que se vivem nas salas de aula todos os dias.

13 novembro, 2008

David Fonseca feat Rita Redshoes - Hold Still


o sinal


gosto das cores do outono. apetece-me sair de casa de máquina em punho e fotografar as árvores do caminho, uma a uma, como quem recorta o instante suspenso de uma folha prestes a cair e cola essa imagem na retina e na memória até outro tempo e outra luz a apagar. gosto das cores e dos cheiros da terra, e da geada anunciando a branco um inverno próximo. gosto do ar muito frio na cara, das iluminações de natal rasgando a noite, do fumo e do sabor das castanhas assadas na rua... porque sinto em todas as coisas a esperança tangível de um amor anunciado.



imagem daqui


07 novembro, 2008

silencio


podia dizer-te com palavras
coisas normais dos dias e das pedras,
coisas do andar e do fazer.
podia dizer-te com palavras
coisas simples e claras,
coisas do sentir e do ser.
mas não direi nada
que não saibas já,
por isso calo todas as palavras
e procuro dentro de mim a tua voz.

24 outubro, 2008

Joni Mitchell - California (BBC)


a paz não é só um sonho. daqui não conseguirei, talvez, lutar pela paz do outro lado do mundo, mas vale a pena perceber se onde estou construo paz ou causo discórdia e desunião. onde me sinto em paz? como transmitir paz? ser quem se é dá paz interior, aceitar os outros como são deve dar-lhes paz a eles... digo eu... será?

Provérbio chinês




"Para que possas beber vinho num copo que está cheio de chá,
é necessário primeiro tirar o chá. Só então poderás servir e beber o vinho."



fotografia de Ernest von Rosen, www.amgmedia.com

do fazer, do estar e do sonhar


Penso muitas vezes e repito-o para mim própria: não há tarefas menores. Depois na prática nem sempre me lembro disso. Hoje volto a esta ideia, com mais vontade ainda de a pôr em prática. Se a cada pequena tarefa, se em cada pessoa que encontro colocar toda a minha dedicação, cada encontro e cada tarefa ganha um novo sentido. Eu realizo-me mais porque estou presente naquilo que estou a fazer, sou mais feliz e faço mais felizes os outros. Não quero com isto dizer que devo viver prisioneira do presente. Posso estar dedicada ao presente e elevar os olhos para o futuro, com esperança, com confiança, posso e devo sonhar mais alto e melhor. Aliás se viver bem o presente, com as suas dificuldades e sofrimentos, com as suas alegrias e oportunidades, se levar a vida a sério e lhe procurar sentido, vou com certeza sonhar melhor.

11 outubro, 2008

a cada coisa o seu tempo


Hoje é Dia Mundial dos Cuidados Paliativos, por isso recomendo:

- uma visita ao site da Associação Portuguesa dos Cuidados Paliativos:

http://www.apcp.com.pt/

- a crónica de ontem da Laurinda Alves:

http://laurindaalves.blogs.sapo.pt/143383.html

- e já agora uma pequena entrevista da Laurinda Alves ao Dr. Daniel Serrão:

http://videos.sapo.pt/ZiDcVPzBqoAmulonel2G

A informação e a consciencialização são essenciais para que cada vez mais se reivindiquem direitos essenciais de doentes, famílias e até de profissionais de saúde. É preciso que a morte seja integrada com naturalidade na vida, que se respeite o tempo de morrer porque para morrer também é preciso tempo. E durante esse tempo há muito para fazer, muito para aprender, muito para viver.

08 outubro, 2008

do tempo que demoro chegar a casa


nessas horas em que me sobram palavras
não te digo nenhuma,
antes cerro os dentes,
sustenho a respiração
e fico ali imóvel
perante o desenrolar invisível
desse fio, desse rio, desse mar de
palavras infindáveis e mudas
que não te direi.
fico ali como fonte inesgotável,
guardando a água para o lado de dentro
(até me constipar de desesperança):
não há palavras que me sirvam,
não há palavras que nos sirvam.
nada do que eu penso me pode explicar,
nada do que eu sinto te pode salvar,
onde eu sou tu já não estás,
onde tu és eu nunca estou.
às vezes porém,
regresso a casa com esse travo na boca
do deserto e da sombra
que trazes nos teus passos...
(porque não pressinto em ti nenhuma luz)
regresso a casa e demoro a chegar,
demoro a recuperar dessa dor
que não te larga,
dessa resignação, dessas cinzas,
dessa morte que te habita antes do tempo,
regresso a casa e demoro a deixar-te.

tempos (de) outros

parece que não sou só eu que ando a pensar no tempo:


Ter o tempo na mão

sem tempo




parece que tenho tanto tempo livre no horário, mas não me sobra tempo nenhum, ando sempre atrasada, sempre a correr, continuo a não ter tempo para nada... estranho... ou é dos meus olhos, ou da minha falta de disciplina, ou... é o tempo que passa a correr... logo agora que estava a gostar tanto de ler:








imagem 1 daqui
imagem 2 dali

25 setembro, 2008

David Fonseca - Kiss Me, Oh Kiss Me


"So when the fight is over,
And the storm is through,
Now will you pick another?
What will you get into?

So you stand in the corner,
With those boxing gloves on you,
You’re old, scared and lonely,
Yeah we’ve all been there too…
We’ve been all there too…

Kiss me, oh kiss me,
If that can make it right.
Try me, find me,
Just throw them on me…
Those failed expectations…
Floods and afflictions you’re through.
Cause I just might, take them home with me."

(...)

04 setembro, 2008

os dias do bandido


chegou ontem...




um livro, dois cds, 79 faixas, 10 anos, um homem, muitos convidados... uma obra.
o que é uma obra pode dizer do seu autor?
muito depende do que o autor nos deixa ver...





neste livro, neste album, nesta obra, Manel Cruz deixa a porta entreaberta e cada um encontra uma obra diferente, talvez. para além das letras está a escrita, para além das músicas estão os instrumentos e os sons, e a gravação em si, e a mistura... como quem segue as pistas de uma história indecifrável, seguem-se as páginas e as faixas desta obra, numa odisseia de instantes e sabores e humores... no limite só nos é dado a ver aquilo que o autor nos deixa ver. no limite só nos é dado a ver aquilo que somos. para aqueles que se reconhecem, para aqueles que procuram, para aqueles que se perdem, para aqueles que viajam com a mesma angústia por estes dias, por estes tempos, por estes sonhos. para esses é esta porta familiar, para esses é esta obra um princípio da explicação das insónias habituais. ou uma tentativa de explicação. para esses estas palavras estão debaixo da língua à espera de serem ditas. para esses estas músicas estão debaixo da pele à espera de serem sentidas. para os outros não sei.
se alguém se atreve a fazer um objecto assim, inclassificável no conteúdo e na forma porque pessoal, e pessoal também na construção, no tempo que demorou, se alguém se atreve... gostem ou não gostem, há coragem e há verdade. as duas já são raras e juntas ainda mais. e também há talento, neste caso.




02 setembro, 2008

os últimos dias


aqui onde o tempo não passa
eu sou
esta sede de encontro e distância,
eu sou
a memória da esperança,
eu vou
voltar ao zero, ao princípio, ao silêncio,
apagando todas as marcas
que me deixaram na pele.
eu principio
e ninguém me procura as asas
(não sabem).
eu quero, ser
terra de ninguém.
esse instante suspenso numa gota de orvalho
antes de cair


MESA - Boca do mundo


...é esta a música destes dias sem direcção. outra vez no espaço invisível, indizível. estou no intervalo, no espaço entre... a arder os inevitáveis sentidos dos outros. é isto o presente.

"por fim, por fim
sinto a vida que passa,
na boca do mundo
não se sabe quem é quem"

22 agosto, 2008

coisas com luz



coisas com luz. há dias em que precisamos de coisas com luz. faz-nos falta. há dias em que o cansaço parece maior, ou a esperança parece menor, e precisamos de ser iluminados por algo ou por alguém para recuperar qualquer coisa que parece que perdemos e não sabemos bem o que é. às vezes basta rir. rir de uma parvoíce qualquer. e tudo fica mais leve.


Vou criar uma nota para casos futuros:
não dar tanta importância às coisas
às coisas?
às coisas em geral


imagem daqui

20 agosto, 2008

Primeiros dias num call center


segunda, dia 1 = dores de cabeça, dores de cabeça, dores de cabeça, que dia é hoje? quando é que são 23h, dores de cabeça... noite mal dormida, sem conseguir desligar o cérebro, sem conseguir parar...

terça, dia 2 = são 23h, log off. não correu tão mal... consegui ter apetite para jantar, consegui dormir, sem dores de cabeça

quarta, dia 3 = ?


imagem daqui



18 agosto, 2008

olhares


devemos olhar para as coisas com um olhar claro. quanto mais penso, falo, experimento, mais me convenço disso. um olhar claro significa, primeiro, ver a verdade, não cair na tentação de querer ver o que não está lá, nem fechar os olhos àquilo que nos incomoda. não ser displicente, nem ser indiferente. um olhar claro também quer dizer, trazer luz para, iluminar aquilo que se olha, ver o positivo, ver o construtivo, e quem sabe até sonhar mais, melhorar. há pessoas capazes disto. não é só uma qualidade. é um exercício diário, alcançável, com mais ou menos esforço. é transmissível também, na medida em que a forma como olhamos e como falamos das coisas transmitem luz ou sombra aos outros.
fico a perguntar-me: e eu, o que andarei a transmitir aos outros? mais luz ou mais sombra?

17 agosto, 2008

Pormenores


estou sem telemóvel. uma coisa que antes não fazia falta nenhuma e que hoje em dia parece quase impensável. sabe-me bem. estou incontactável 90% do tempo. quase ninguém tem o meu número de casa. se alguém me tentar ligar ou me mandar uma mensagem só saberei com algumas horas ou mesmo dias de atraso. eu própria só posso marcar encontros à moda antiga. sem confirmações, sem toques, sem mensagens. é nostálgico. sabe-me bem. sabe-me a férias, embora não esteja de férias. mas é nas férias que marcamos assim, encontros informais, com aqueles que encontramos no caminho, com horas para chegar, sem horas para terminar...

16 agosto, 2008

Nota

as duas músicas foram postadas há muito, mas só apareceram agora. por isso há aqui dois ontens e nenhum deles é ontem. o ontem do herbie hancock foi dia 3 de agosto. o ontem do mário laginha foi dia 9 de agosto. estiveram ambos no Palácio de Cristal, em dois lugares diferentes do jardim. dois concertos muito diferentes. gostei mais do segundo. menos barulho, menos gente, mais intimista. soube-me melhor.

Mário Laginha Trio - Tanto Espaço

tocaram esta música ontem nos jardins do Palácio de Cristal (entre outras)...
é bom ouvir jazz sentada na relva, sentindo na pele o ar frio da noite enquanto a lua descia no céu por entre as folhas das árvores.
ao ouvir esta música é preciso respirar nos tempos certos: dentro de nós há tanto espaço, (entre nós) há tanto espaço...

Herbie Hancock Feat Corinne Bailey Rae - River


uma das músicas que ouvi ontem. mas esta versão da Corinne faz-me parar. há algo de infantil no sussurrar e tanto de cuidado e de contido na forma como canta. um equilíbrio frágil. parece que se pode partir a qualquer instante (é preciso ouvir com a mesma delicadeza)

09 agosto, 2008

com vista para o céu





há viagens que têm que ser feitas. viagens inevitáveis. ao fundo de nós. ao fundo dos outros. onde nos perdemos, às vezes, por muito tempo, até já não sabermos bem quem somos nem como voltar. viagens que doem. e fazem crescer.
há viagens que tenho que fazer. sozinha muitas delas. aparentemente. muitas vezes até para mim pareço parada, parece que a vida é que passa por mim, mas estou em viagem, constantemente. hoje já nada em ti me pode deter, já nada em mim te pode perder. posso parar, quando puder dizer: a minha paz está dentro de mim, a minha casa está dentro de ti.


fotografia do jardim
1 de maio de 2008



04 agosto, 2008

tempo II


e porque tinha tempo não parei.
fui ao cinema:



O cavaleiro das trevas


um filme onde o vilão brilha mais do que o herói...
um brilho estranho é certo, o raiar da loucura e da violência gratuita,
sem leis, sem limites, pelo puro prazer do caos...
assustador portanto.
a reflectir dos outros o lado mais frágil,
a alimentar-lhes as dúvidas e as limitações...
somos capazes de viver os nossos princípios até às últimas consequências?


imagem retirada daqui


fui ao teatro:



Platónov


4h dentro de uma sala, mas não senti o tempo passar.
uma peça sem heróis, o retrato de uma sociedade decadente.
um homem no centro da história
que se deixa arrastar na sua própria pele,
preso nas suas teias e nas suas relações...
pela inacção vai-se corrompendo e vai corrompendo tudo e todos.
porque ser livre implica fazer opções, Platónov, o homem, não se liberta nunca,
nem liberta ninguém.


imagem retirada daqui


fui a um concerto:



Herbie Hancock e convidados


alguns dos convidados iluminaram mais que o anfitrião.
ouvir jazz no meio de uma multidão,
não é coisa que procure muito, aconteceu.
felizmente quando fecho os olhos
estou sozinha
estou só a ouvir com o corpo inteiro,
e ouvir é não pensar.


imagem retirada daqui


tempo I




depois de um ano a escrever a tese, as provas duraram 1h,30... parece curto. (há peças de teatro mais longas). correu bem (falta-me aprender francês para ser a donzela perfeita). desde então ainda não parei, mas no fim de semana reparei que o tempo é todo meu... estranhei, mas sou capaz de me habituar.


24 julho, 2008

duas noites seguidas a dois séculos de distância

Duas noites, dois lugares, dois compositores, dois séculos de distância, duas viagens completamente diferentes.

Na primeira noite, música sacra de Antonio Vivaldi (1678-1741) - Stabat mater, Nisi Dominus, entre outras - interpretada por um agrupamento instrumental e um contralto italianos. Uma voz invulgar a dar vida aos sentimentos e às cores que Vivaldi colocou nas suas composições virtuosas... há melodias tão claras e luminosas nas suas obras que soam certas e parecem fáceis. Sabe bem estar viva para poder ouvir coisas destas ao vivo e a cores. Até a dor parece que dói menos porque soa tão bem.

Na segunda noite chegou a inquietação através das obras de Olivier Messiaen (1908-1992), das quais destaco uma: Quatuor pour la fin dus temps. E o fim dos tempos de Messiaen é inquietante, desgastante e depois tempestuoso... como só a natureza pode ser. Mas também é silêncio e depois do silêncio desolação. Porque depois da tempestade de Messiaen vem a desolação de perceber que é uma tempestade de violência sem vida. A desolação de um planeta desabitado. Mas até num planeta desabitado nasce o sol ao som de um violoncelo. Até num planeta desabitado, na última noite do último dia, a lua se ergue no céu reflectindo a luz do último solo de um violino.

Curiosidades curiosas
Messiaen, compositor francês, organista, e ornitólogo compôs este Quatuor pour la fin dus temps enquanto esteve preso, para os quatro instrumentos disponíveis: piano, violoncelo, violino e clarinete e foi ainda na prisão que esta obra foi pela primeira vez interpretada por ele e outros prisioneiros para os guardas e restantes presos.
Messian sofria de uma forma moderada de synaesthesia
que se manifestava pela percepção de cores quando ouvia certas harmonias, particularmente as harmonias construídas a partir dos modos de transposição limitada (compilados por ele), e usava combinações dessas cores nas suas composições.


11 julho, 2008

III


quanto menos palavras me servirem
mais saberei que estou perto da verdade


II


cala-te.
ouve...
é este o lugar.
aqui na terra do poema,
aqui se cruzam todos os rios do meu passado,
aqui nascem todos os rios do meu futuro.
quem eu sou?
não interessa.
aqui sou silêncio.
aqui me curvo em reverência.


I


achas que falo contigo?
é silêncio apenas.
é silêncio apenas
tudo o que te digo.


10 julho, 2008

em vão


um dia alguém há-de encontrar esse corpo que é teu
que tu dizes que morreu
e que recusas procurar.
(que recusas reclamar.)


branco-luz


cala-te!
cala-te já
enquanto ainda há sentidos escondidos.
não acredito em nada do que dizes,
palavras vãs, sentimentos - pedras na garganta
- interrompidos.
não venhas agora. o tempo espera.
as coisas claras demoram a nascer,
mas quando chegam
destroem casas, derrubam muros,
inundam vidas com seu eterno amanhecer.


(sem título)


um dia,
quando chegares,
reconhecer-te-ei pelas mãos.
não que as tuas mãos tenham algo de especial.
para todos os outros são umas mãos perfeitamente normais.
ninguém sabe, senão eu, que as tuas mãos já são minhas,
ninguém as conhece como eu que sempre as conheci.
não vou sequer dizer que as tuas mãos encaixam nas minhas
porque as minhas são pequenas e as tuas grandes demais:
nas tuas mãos cabe o tempo, a terra, o meu corpo inteiro,
nas tuas mãos beberei da chuva a primeira água das manhãs.
um dia,
quando chegares,
não vais saber quem sou eu,
só as tuas mãos reclamarão aquilo que já é teu.
sono leve, rente à pele, quem me vem adormecer?
no dia em que me tocares, saberás porque nasci.


09 julho, 2008

Expectativas vs. realidade

ser o que se é, é algo suficientemente difícil. porque é que se exige que, além disso, as pessoas tenham que corresponder as expectativas de uma sociedade normalizada? porque é que não se pode estar triste? porque é que não se pode estar calado, por não ter nada para dizer? porque é que se tem que querer atingir um determinado estatuto, ou ter determinadas profissões? porque é que se deve desconfiar de tudo e todos e considerar a inocência ou a ingenuidade um defeito de carácter? porque é que se tem que ser magro? porque é que se tem que ser rico ou famoso ou estar na moda?
simultaneamente não consigo ver onde é que responder a todos estes estímulos e expectativas sociais torna as pessoas mais felizes. Será que me dou ao trabalho de perceber o que as pessoas são e sentem para além daquilo que aparentam? será que pergunto: tudo bem? e não como estás? E se pergunto como estás? fico tempo suficiente para ouvir a resposta verdadeira ou não tenho coragem porque corro o risco de ouvir o desabafo ou de me aproximar demais do outro, sentir a sua alegria e a sua dor? Será que aposto na qualidade das minhas relações? Será que dou tempo e espaço para me aproximar de alguém e para as pessoas se aproximarem? É difícil, dá trabalho, as pessoas são a maior parte das vezes, confusas, complicadas, não estão sempre bem-dispostas, não são sempre engraçadas... mas ter relações com profundidade não trará outra satisfação, mais disponibilidade de ambas as partes, menos preconceitos, mais aceitação do outro, mais compreensão, mais caridade, mais amor no fundo? porque só se ama quem se conhece.


02 julho, 2008

Radiohead - Idioteque

e com esta termino... entrando na órbita do cometa radiohead à velocidade alucinante de idioteque. definitely in the mood for radiohead.

Kings Of Convenience - Cayman Islands

o elogio das coisas claras, reduzidas ao essencial. as palavras quase sussurradas:

"if only they could see, if only they had been here
they would understand, how someone could have chosen
to go the length I've gone, to spend just one day riding
holding on to you, I never thought it would be this clear"

Miles Davis - Move - Birth of the Cool

esta não está completa... é uma amostra e quem quiser mais que vá procurar...
se o meu pensamento se pudesse ouvir sob a forma de música, às vezes soaria mais ou menos assim.

Astor Piazzolla y su Quinteto Tango Nuevo - Adios Nonino

esta dançaria se soubesse...

Bobby Mcferrin improvisation with Richard Bona

qualquer coisa completamente diferente...
sabe a terras distantes e a ventos quentes, fortes, lentos. sabe a florestas claras com um travo de sal.

portas e janelas II - inside my mind

à procura das minhas músicas preferidas encontrei algumas que já nem me lembrava, músicas que outros me mostraram e que agora também já são as minhas músicas, que fazem eco por dentro, que se dispersam e condensam pelas planícies e escarpas e rios interiores, que tem sabores e memórias e lugares dentro, que tem corpo e densidade e cor de tempos que é tão fácil trazer ao presente. basta ouvir.

01 julho, 2008

Vivaldi - Stabat mater (RV 621) - Andreas Scholl


à procura da perfeição...
parece fácil.

Nina Simone - Feeling good

Aqui como pano de fundo na promoção da 4.ª série de Sete Palmos de Terra. Tudo muito bom. Realmente aquelas laranjas estavam mesmo a pedi-las...

Rufus Wainwright - Beautiful Child - Live

portas e janelas de música


há muito tempo que a música me parece um bom caminho para perceber melhor as pessoas. muitas vezes e quase por instinto, quando me aproximo de alguém começo (ou acabo) a ouvir as músicas que essa pessoa mais gosta, como se essas músicas fossem portas ou janelas que essa pessoa me abre sem falar, até porque quando as pessoas falam, falam com as suas reservas, com as suas defesas, com a sua ironia, mesmo que estejam plenamente convencidas da verdade que estão a dizer. agora se me dizem esta música faz-me chorar, esta música faz-me rir, esta música faz-me dançar, sozinho no quarto onde ninguém vê, esta música foi feita para mim, é assim estar dentro de mim, isso é outra conversa. já não falamos de palavras, ou de filosofias, ou de verdades, falamos de beleza, de procura, de sentimentos. experimenta. deixa-te influenciar...



vou ilustrar o que disse com as minhas músicas preferidas.


21 junho, 2008

liberdade




ser gratuito nas relações é tão difícil... ser desinteressado, ou abnegado, dar sem esperar, nem exigir receber. é uma luta interior terrível às vezes. é um pequeno milagre quando acontece naturalmente e sem doer. é uma meta e são pequenas conquistas. é uma luta da qual vale a pena não desistir, porque um só momento de sucesso é imensamente compensador.

quanto serei eu capaz de dar de mim sem pedir nada em troca? há dias em que esta luta me dói até à alma (que é onde as coisas difíceis doem). há dias em que só desejar ser assim já é uma vitória. há dias em que só de tocar ao de leve nessa promessa de liberdade, e senti-la ganhar corpo, dá sentido a todos os fracassos, a todos os desânimos e faz desejar ir mais longe (ou ir mais fundo).







mais uma fotografia do jardim cá de casa


12 junho, 2008

Coldplay - Violet Hill

estão de volta...




parece que tiveram que desenterrar este novo album, sujaram-se (como se vê e como se ouve), arriscaram, e fica-lhes bem. não tiveram medo de se descolar da imagem que criaram. estive a ouvir o novo disco no myspace. recomendo. gostei de descobrir o vocalista num registo mais grave que o habitual (na música Yes, por exemplo). às vezes parece mais clara a influência dos radiohead (na música 42, por exemplo), mas de forma construtiva, como mais um passo para construir uma música dos coldplay; até porque a voz do chris tem identidade própria, tem luz própria. é uma agradável surpresa descobrir músicas que se desmultiplicam e mostram novas faces a cada virar de esquina, como se uma música fosse várias (como Cemeteries of London, 42, Yes e Death and all his friends). e o que dizer deste início de Lost: "just because I'm loosing doesn't mean I'm lost"? soa a desafio, soa a rebeldia, eu diria que define a intenção, mesmo que fosse para perder, este era o risco que tinham que correr...
Gosto bastante da cor que os instrumentos de corda trazem para Yes e Viva la vida. Mas Viva la vida é muito mais do que essa ambiência, é a afirmação de um risco que valeu a pena correrem, é a batida do coração nos novos coldplay, sintam-lhes a pulsação. A mesma pulsação que se ouve em Violet Hill. No fim não se vão embora sem respirar fundo ao som de Strawberry Swing que já está longe da terra de Violet Hill, já é outro lugar, ou talvez seja um caminho, um caminho para chegar a Death and all his friends. e não se pense que Death and all his friends soa a fim, não, soa a princípio: boa viagem!


01 junho, 2008

My blueberry nights


um filme de Wong Kar-Wai

















































































































qual é a distância entre duas pessoas? quanto tempo é a distância entre duas pessoas? quanto quanto tempo se demora a atravessar a perda? quanto tempo se demora a atravessar o tempo?

há muito tempo que não via um filme em que o tempo é uma das personagens. em que as coisas tem tempo para acontecer; em que as personagens tem tempo para falar e para calar, para perder e para se perderem; em que para encontrar não é preciso procurar é preciso desistir.

o que nos tira o sono? o que nos tira o chão? e quando isso acontece qual a distância que temos que percorrer? qual a largura desta estrada? quantos passos tem? quantos quilómetros? quantas pessoas? quanto tempo? o tempo entre estar e encontrar. pode ser um passo. pode ser um ano. pode não ser.





















If Love Were All - Rufus Wainwright

probabilidades


Era uma vez um homem extremamente organizado. Tudo nos seus dias acontecia segundo uma sequência estritamente planeada, a horas exactas e com durações precisas.
Esse homem tinha um amigo. O amigo era um homem muitíssimo desorganizado. Deixava-se sempre guiar pelo acaso, pelo inesperado. Era imprevisível, até para si próprio, o que iria fazer a seguir, ou onde iria estar.
Era para todos um mistério como é que estes dois homens se tinham encontrado. Era um mistério ainda maior como é que eles se continuavam a encontrar.
Se os encontros destes homens eram resultado da imponderabilidade de um, ou da constância do outro, (ou de uma terceira instância) ninguém sabia ao certo, mas, o facto, é que os encontros aconteciam, se repetiam, contrariando todas as probabilidades.


23 maio, 2008

I Know by Jude

just stop and listen

19 maio, 2008

eu que não tenho nome


E assim, de mim me sinto ausente,
por mais que te tente fechar janelas
à imaginação. escapa-se-me com a corrente
pelas frestas do corpo, recusa
a prisão domiciliária dos sentidos,
esvazia-se como se na distância estivesse mais perto
e na alteridade se encontrasse semelhante.
devo ter perdido algures o sentido do risco
que protege quem tem medo de se perder.
como alguém que perante o abismo
sentindo atracção e medo
se tenha traído numa hesitação,
um instante apenas, e ao regressar
tenha perdido e ao perder
tenha trazido
à flor dos lábios
o sabor prometido pela vertigem.

09 maio, 2008




You Are Best Described By...



Landscape With Butterflies

By Salvador Dali








Your Mind is Purple





Of all the mind types, yours is the most idealistic.

You tend to think wild, amazing thoughts. Your dreams and fantasies are intense.

Your thoughts are creative, inventive, and without boundaries.



You tend to spend a lot of time thinking of fictional people and places - or a very different life for yourself.





06 maio, 2008

Princípio




este tem sido um período de ausências.
ausência de pessoas, ausência de velhos hábitos, ausência de horários normais, ausência de saídas descontraídas e informais, ausência de conversas infindáveis, ausência de encontros, de desencontros, ausência de tarefas manuais. hoje caminhar ou limpar a casa tornaram-se tarefas oasis. um prazer para as mãos e um alívio para a mente. hoje saio ao fim da tarde para fotografar flores do jardim e dou-me conta das diferenças de um dia para o outro. a vida não pára. se do lado de cá a vida parece estar imóvel há meses numa secretária com um computador ao centro rodeado de papeis, do lado de lá da porta, a vida não pára, as flores crescem e murcham a uma velocidade alucinante e assim os outros e assim eu própria, assim as minhas células nascem e morrem diante dos meus olhos. quando finalmente me disserem: podes sair acho que nem me vou mexer. ficar a ouvir o ruído do mundo e não responder e nem mexer um músculo, não fazer nada. ou então dormir: esperar pelo fim de todos os sonhos que não tenho sonhado para acordar. e como durante o sono o não há tempo vou acordar no instante seguinte, levantar-me ligar o computador, esperar pelo meu habitat natural, digo, pelo meu ambiente de trabalho, abrir as pastas sucessivamente: documentos, fac, mestrado, tese, cap9-conclusão e perceber que já acabei e que não tenho nada a fazer ali, nem em lugar nenhum, nem nesse dia, nem no outro, porque todos os dias estarão em branco, indefinidos, informes, selvagens, prontos a ferir-me até ao osso com a sua beleza de marfim intocável, com a sua abundância de horas livres e moles. dias de miragem e precipício. dias que me lançam do futuro o seu aroma de risco e vertigem. por eles sigo às cegas tacteando no escuro à procura da saída de emergência, da tecla on/off, da opção log out, da palavra FIM no fim da página.






FIM






(fotografia tirada no jardim cá de casa no dia 1 de maio de 2008)


07 fevereiro, 2008

Welcome to my mind



f
nf
nej
wejf
0reti5
j2u5098
0sog2k35h
19yrudhfksjg
sbkuighrt99058u
7835iuehjhbgiuht9w8y
5982y45u2htkjbkgbiguywer
9qy984y835gyugwtgbliuhey8r7tqu
ehiehfksjdbfjhbvjhdgisuhfiosjhdjsnkjhbvj
dgiyu49i5yuiewhrfkjdhbfkdjhbgiutieuhrishfkdjhk
fdugyheiurthowehrsojdfkdfjhgkdfughiwueyhrowuhfsjbgkdhgi
ughrjdofmfhweyro9qweytowuthkwjgbkfddkiurhtogwyeoqiyhet98y24g




tradução: não disponível