31 dezembro, 2010

2011


Três desejos muito pessoais para 2011, quase propósitos, embora eu não goste de propósitos... tenho tendência para não cumprir nenhum, por isso já nem vou escrever aqui: fazer exercício (que sei que preciso, mas nunca faço...) nem ler mais(que quero mesmo, mas nunca arranjo tempo, só nas férias). O que eu preciso, para que essas e outras coisas sejam possíveis, é de mais esperança (não precisamos todos?), disciplina e liberdade. (Mais vale começar já hoje e não deixar tudo para o próximo ano).

24 dezembro, 2010

oração


que o silêncio te diga
o que não te sei dizer.
que o silêncio te abrace
se não te posso tocar.

que o rio do tempo
te traga a salvo para casa,
seja ela no mar
ou noutro qualquer lugar.

[se a fizeres sobre as ondas
que as saibas navegar,
se a construíres nas nuvens
que aprendas a sonhar.]


22 dezembro, 2010

natal


há quem não acredite, há quem pense que é um hábito histórico-cultural, há quem só veja as aparências, há quem reúna a família, há quem se lembre de quem mais precisa, há quem gaste demasiado e ofereça muito pouco de si, há quem já não se lembre, há quem esteja tão sozinho como em todos os outros dias, há quem goste das decorações e se deixe ofuscar pelas luzes...

natal: um nascimento que começou há mais de 2000 anos e nunca mais parou de acontecer. que significado pode isso ter, hoje, para cada um?


21 dezembro, 2010

palavras tantas


muitas vezes (a maior parte das vezes) tenho muitas coisas a dizer a muito poucas pessoas, geralmente a uma só pessoa. quando essa pessoa não está presente ou disponível, não sei o que fazer com todas as palavras que me sobram: guardo-as nos bolsos, mas os bolsos ficam cheios depressa demais, digo-as a outras pessoas, mas não parecem entendê-las, calo-as, mas continuam a crescer em número e intensidade. não me resta outra solução senão escrevê-las. às vezes basta uma enumeração indiscriminada, outras vezes escrevo alguma coisa secundária em que perco algum tempo a pensar, outras vezes tenho que escrever exactamente o que queria dizer. tenho algumas palavras preferidas, poucas, raras, palavras de estimação que uso frequentemente, mas com cerimónia (luz, sombra, espera, raras, liberdade). às vezes apetece-me usá-las todas de uma só vez, ceder à urgência de dizer tudo (tudo o quê?), ficar reduzida a cinzas, vazio, ausência de mim em mim (paciência, procura, medo, paz, pássaros, urgência, rio). às vezes, por muito que queira falar, os outros pedem-me silêncio (distância, cinzas, ausência, silêncio, morte, espaço, vazio). que assim seja (parar, escrever).


20 dezembro, 2010

férias


primeiro dia de férias...(quais férias?)
como estou? doente. Que pontaria!!!


15 dezembro, 2010

tese


o desencontro não existe.
a probabilidade do encontro é directamente proporcional à vontade.


metáfora


fosse possível excluir todas as palavras menos uma, decantar, filtrar, destilar, purificar, extrair, recristalizar: uma palavra só que te dissesse, que atravessasse as fronteiras do corpo e do tempo e fosse em cada instante metáfora da tua presença em toda a parte.


dialéctica


nem tudo o que reluz faz frio,
nem tudo o que assombra é puro,
nem tudo o que seduz é bom,
nem tudo o que se diz é claro,
nem tudo o que se cala é escuro.


(da madrugada)


13 dezembro, 2010

perspectivas


e se tudo o que acontece for o melhor, mesmo que as vezes não pareça?
e se tentar fazer o melhor com tudo o que acontece, mesmo que às vezes não apeteça?


12 dezembro, 2010

Tiago Bettencourt & Inês Castel-Branco "Se Cuidas de Mim"




a propósito de coisas simples, uma canção simples. às vezes as coisas simples estão mais perto da perfeição. a amizade, por exemplo, uma coisa aparentemente simples...


coisas simples


há uma beleza nas coisas simples e claras, nas coisas que nos fazem bem e que às vezes parecem raras e outras vezes estão só escondidas pela quantidade enorme de tralha que nos ocupa os dias, sejam as listas intermináveis de coisas a fazer, seja a incapacidade de viver com mais liberdade e mais humildade. sou menos livre quando ignoro o que os outros precisam de mim e espero que eles sirvam as minhas necessidades, quando os manipulo mais ou menos conscientemente para servirem as minhas vontades, quando ajo por interesse e não de forma gratuita. sou menos humilde quando me recuso a pedir ajuda por me ter habituado a viver como se fosse auto-suficiente, como se não precisasse de ninguém. tantas coisas que podem tornar a vida mais difícil do que ela já é, desnecessariamente. a humildade é a verdade, já dizia a madre Teresa, é ser-se quem se é, não usar máscaras, não se sobrevalorizar e não se menosprezar, não parecer mais forte do que se é, não lutar continuamente para se esconder ou para se mudar aquilo que se é. É bom procurar a superação, é bom procurar fazer sempre o nosso melhor, mas se isso se tornar um fim em si podemos esquecer-nos de aproveitar o caminho. viver continuamente no limite pode tornar-nos piores pessoas, mais distraídas, mais cansadas, menos disponíveis para o que realmente interessa. Se o preço da superação for muito elevado, talvez seja caso para perguntar: será mesmo superação? não será maior superação aceitar os próprios limites e viver bem com eles?


06 dezembro, 2010

nina simone - how it feels to be free - montreux 1976




"i wish i would know how it feels to be free"
(i wish you to know how it feels to be free)



(uma mulher de armas!)


inverno


estico o teu silêncio sobre os dias
como um cobertor pequeno demais,
fica sempre um pé, um braço, uma hora
à mercê dos temporais.

escrevo para completar o cobertor.
dirás talvez: palavras a mais.
escrevo para aquecer a dor
nos locais onde o frio se demora.



de outra cor


ainda bem que chove por estes dias, assim não tenho que me preocupar com o que vestir para disfarçar a dor, porque o mundo é da minha cor. eu visto as nuvens e caminho incólume através da tempestade. eu deixo o frio brilhar através dos meus dedos. deixo desejos e medos soltos no vento para ele os dispersar. o meu grito é o ribombar dos trovões e o rumor da chuva sobre a terra sou eu a murmurar.


05 dezembro, 2010

paz


dentro do corpo um grito mudo,
quando a alma me pede revolução
e a razão surda lhe diz que não.
já sinto na pele as marcas da guerra,
já sinto na boca o sabor do medo.
desta vez peço paz, fico em terra,
não tenho forças para lutar em vão.
desta vez pedes paz, calo a ambição,
ouço o teu silêncio azul-denso-fundo.


do outro lado


hoje vou calar o desejo, a procura, o dever,
ignorar essa voz que me agita os sentidos,
vislumbrar um poema e não o escrever,
recusar essa sede de perto e de mais,
ver-te ao longe na rua e não te chamar,
ser de vento, invisível, desaparecer,
não ter nada a dizer e esquecer-me do resto,
já não ser, não pensar, ser silêncio profundo,
ser outro, ser além, ser o resto do mundo.


04 dezembro, 2010

liberdade


só é livre quem liberta.
não peças, dá.
não digas, faz.
não cales, sê.


integridade


"não é importante ser perfeito,
o que importa é ser inteiro"

(Jung)


verdade


não alimentes nenhuma mentira
(por mais ínfima que te pareça)
se queres viver na verdade.


02 dezembro, 2010

nada


não vou escrever, não vou escrever, não vou escrever, não vou escrever, (isto sou eu a não escrever) dói-me, mas não vou escrever, não vou escrever, não vou escrever, não vou escrever, estou calada, está-se mesmo a ver que estou calada, não digo nada, fico aqui quietinha e calada, não vou escrever, hoje definitivamente não vou escrever mesmo nada.


01 dezembro, 2010

um dia mais perto


caminho como quem traz permanentemente
um segredo invisível na mão,
uma pequena luz guardada sob a pele
na direcção do coração
que muda quase imperceptivelmente a cor
das ruas, dos outros, dos dias.


ouvi dizer II


dizem-me que cale, ignore, iluda,
que enterneça, que disfarce e entre-teça
e a seguir desapareça.
dizem-me que, com lucidez,
respeite as regras
e finja estar, tanto quanto possível,
absolutamente desinteressada.


ouvi dizer I


quando o que quero é dizer coisas simples:
pedra, mão, rio, mar, terra, fogo, ar
e só me saem redes intrincadas,
frases complexas, palavras complicadas,
devia respeitar as regras do jogo
e desaparecer, agora, enquanto não está ninguém a ver,
mas quem disse que eu sei jogar?


silenci-ar


Hoje é claramente um daqueles dias
em que está frio demais
para esperar pela noite em silêncio.

podíamos gritar...

[mas não há nada que cale melhor o frio
do que o instante imóvel,
o meu silêncio no teu olhar
o teu silêncio na minha boca,
o espanto]


30 novembro, 2010

claramente obscuro


a taça vazia sobre o muro.(existir não chega).
um gesto de atenção chegaria para encher a taça.
(um gesto quase banal devolveria o estado de graça).
um movimento mais brusco e desilude-se a ilusão.
um passo impreciso entre a confiança e a dúvida,
um gesto inseguro por um móbil mais puro.
cala-te, mas não te esqueças do que ias dizer.
calo-me, mas não me esqueço do que posso sofrer.

os dias sucedem-se na lista telefónica do esquecimento
(que dia é hoje? é teu este dia?)
agarro-me ao meu (medo ou) mecanismo de segurança interna-dor (msi-dor)
e escrevo (me) sucessivamente em dó menor
para disfarçar a falta de talento para entender o mundo:
dó, ré, mib, ré, dó, solilóquio mudo em tom profundo
(queres ver a cor deste tempo, dos dias que eu já sei de cor?
dos dias iguais a todos os dias: cadência suspensivo-controla-dor)

não há palavras que me sirvam, que me aqueçam, que me calem
mas para dizer o que (te) digo, melhor seria estar calada,
pois às palavras tantas sinto que te engano, me desdigo:
não é minha a tua voz, não é teu o meu desejo,
não é tua a minha esperança, não é meu o teu cansaço.
silencio o cálculo da probabilidade das imponderabilidades e descanso,
hoje é só mais um daqueles dias de desassossego mais intenso
em que me claro, espero, escuro, penso, calo, quero tudo! adormeço.


29 novembro, 2010

até ser tarde


gosto de coleccionar manhãs, manhãs de chuva cinzentas e tristes, manhãs claras de frio desperta-dor, manhãs submissas de verão e calor, manhãs amenas de outono e de cor, manhãs de dormir até ser tarde, manhãs de correr por obrigação, manhãs de procurar liberdade, manhãs de perder a direcção.


evitar (te)


porque me custa tanto falar (te)
porque me custa tanto calar (me)
escrevo aqui para evitar encontrar (me)
descrita noutro lugar onde pudesse encontrar (te)


26 novembro, 2010

a paz que eu não tenho


aquilo que na vida posso controlar com precisão é tão ínfimo que a maior parte do tempo vivo em luta com tudo aquilo que não posso controlar. resultado: perco tempo e energia para nada. se pudesse decidia agora: desistir de controlar tudo e viver em paz com o aumento de entropia consequente... mas essa é precisamente uma das coisas que não consigo controlar.


24 novembro, 2010

Maria Rita - Minha Alma (A Paz Que Eu Não Quero)




"paz sem voz não é paz é medo [...]
é pela paz que eu não quero seguir admitindo"

(O Rappa, Marcelo Yuka)


De passagem


sob a aparente calma dos dias,
sob a pele, como uma segunda alma,
a urgência constante do encontro,
a urgência constante da viagem.
atravesso os meses com a mala arrumada,
pouca coisa: coragem, liberdade, quase nada.
tacteio na escuridão do presente,
vasculho no rumor indecifrável da rotina,
um sinal, uma palavra, uma imagem
que me devolva a memória do futuro,
que me inspire as coordenadas da próxima paragem.
hoje, agora, amanhã: não estou parada,
estou um passo mais perto da chegada
estou um instante mais perto da partida.


22 novembro, 2010

Lucidez


acredito,
lá bem no fundo acredito
na esperança dos dias,
na lógica das árvores,
no rumor dos águas,
na intenção do vento,
na solidão das pedras,
na liberdade dos pássaros,
na lucidez do tempo.


Grito


este grito no silêncio
é esperança ou medo?


Pressentilêncios


não sei se é de luz este instante,
de silêncio, ou espanto.
não sei se é o sabor deste encontro
que me acorda por dentro.
pressinto os teus passos no rumor dos dias,
é solitário o teu caminho,
vã é a minha pressa.
o tempo não se detém na curva das horas,
a manhã submersa, a tarde tão escassa,
passas por mim amanhã?
(passas por mim agora?)
é tua esta voz? é teu este braço?
não te digo ainda o que me adivinho,
hoje ainda é cedo, o momento é raro,
hoje só pressinto, espero um dia claro,
hoje faz cinzêncio, paro, calo, espero.


21 novembro, 2010

Depois da tarde


de repente o medo.
não sei se é a noite a chegar
ou se sou eu que finjo não procurar,
mas não sei o que fazer se tiver encontrado.
não faço nada.
fico aqui? fico perto?
fico ao lado?
escrevo? não escrevo?
paro? escuto? espero?
respiro-te de-pressa,
mas não declaro.
aproximo-me devagar, observo e calo,
mas quero-te perto
e isso é tão raro.




18 novembro, 2010

Lenine - "É O Que Me Interessa" - Trama Radiola




é esta a minha frequência de vibração hoje, ontem, amanhã, todos os dias, esta música repetida até à exaustão.


(falta de) liberdade?


nenhum gesto é neutro,
nem a escrita,
tudo é desejo, procura, intenção.


10 novembro, 2010

Silêncio ou nada


vou escrever um manifesto. dirá assim:
senta-te aí e não digas nada: é isso estar.


05 novembro, 2010

Segredo


uma carta! corri para o correio. há tanto tempo que não recebia uma carta. o papel, o cheiro, o desenho das letras, carimbos, selos, o tempo nas dobras, língua, cola, voz, tinta, esperança, silêncio, medo.
guardei a carta no bolso, sem abrir. adiei-te como quem prolonga um prazer. caminhar pelo dia com uma carta por ler. tua. o dia inteiro essa notícia repetida, esse segredo no bolso, um murmúrio intermitente a massajar-me a palma da mão, uma resistência imperceptível do papel contra a perna ao andar, uma corrente de ar porque alguma janela mal fechada no coração (ou é o medo a jogar ao esconde-esconde com a esperança. desarrumam-me tudo!)
quanto tempo vou aguentar? umas horas? um dia? mais que um dia? será que consigo dormir com esta carta no bolso? por ler. tua. não sei, mas sabe-me bem não ler, como quem caminha por instantes de olhos fechados na rua, sem ter medo de tropeçar, ou do que os outros vão pensar, porque no fundo caminhamos sempre de olhos fechados para o futuro. confio de olhos fechados que há muito mais do que aquilo que se vê. confio de olhos fechados que não preciso de tentar prever tudo o que vai acontecer.


energias alternativas


hoje sou uma máquina movida a café...
vrummmm, vrummm, cofff, cofff.


04 novembro, 2010

Inércia


inércia.
sono.
estupidez aguda
ou indolência generalizada?
o tempo a passar
e não fiz nada.
nada de nada.
...
vou fazer uma pausa.
(de quê?)


25 outubro, 2010

Citação


"A música tem de dar espiritualidade ao corpo para se tornar em sonoridade visível."


Jaques Dalcroze


19 outubro, 2010

outra vez

com o início das aulas sinto que deixei de respirar: correria, trabalhos para fazer, artigos para ler, poucas horas de sono, leituras interrompidas, nenhum tempo para escrever, bons hábitos recém-adquiridos novamente perdidos... facilmente me desorganizo.

mas faz-me falta respirar. gosto mesmo deste ar frio, destas cores quentes de outono, desta dança das folhas pelo ar, desta vida que se transforma e se reduz ao essencial. quantas folhas teria eu de perder para me encontrar no essencial? com quantas máscaras enfrento os outonos e os invernos e os outros?

com tantas ideias, trabalhos, pré-ocupações, intenções, expectativas, quanto tempo sobra para simplesmente ser? quanto tempo sobra para me deixar surpreender? quanto tempo sobra para me deixar deslumbrar?

o que é que me deslumbrou hoje?
uma mensagem de agradecimento, um gesto, um toque (porque às vezes parece que nos esquecemos de tocar uns nos outros), gargalhadas de fim de tarde, uma música, as cores do kandinsky (outra vez).

16 setembro, 2010

Academia de Verão











há imagens que valem muitas palavras, dias que valem vários meses, encontros que dão sentido a anos de desencontros. os últimos dias de férias foram afinal os primeiros. os primeiros em paz e em esperança. os que trouxeram mais respostas e novas perguntas. e sede, sede de mais. mais verdade, mais liberdade, mais coragem, mais conhecimento, mais integridade, mais transparência... parece às vezes que são demasiados desejos para uma pessoa só, mas a mim faz-me pensar: por que me deixo viver tanto tempo com menos, satisfeita com pouco, sem sonhar mais, sem procurar as respostas, (e as perguntas), alheia à minha própria sede... é estranho, não é?



09 setembro, 2010

Ser


a distância entre o que se pensa e o que se é,
a distância entre o que se faz e o que se pensa,
a distância entre o que se faz e o que se é,
são, a maior parte das vezes, muito maiores do que nós pensávamos...
são, a maior parte das vezes, muito maiores do que a raiz quadrada da soma do quadrado dos catetos.



Regressar


Os melhores dias de férias são, às vezes, aqueles em que se tem uma rotina fixa, intensa, como no tempo de aulas, mas a fazer alguma coisa completamente diferente, de preferência que se gosta e/ou se quer muito fazer. Conclusão: (quando se tem muito tempo de férias) os melhores dias de férias são aqueles em que se trabalha?


13 agosto, 2010

espaço


(um rumor longínquo)
a memória da distância,
memória do que não vi
como se fosse possível guardar em mim
uma memória do futuro
(de um futuro).


eu quero sair daqui para nenhum lugar
como quem caminha num quarto escuro
e se mistura na escuridão e se escurece
e ao ser habitada pelo espaço desaparece.


TED TALKS


"TED TALKS": Apresentações de 20 min sobre os mais diversos temas (tecnologia, ciência, entretenimento, educação, economia...) disponibilizadas gratuitamente on-line no site: www.ted.com

"IDEAS WORTH SPREADING!"
Ideias que inspiram, que desafiam, ideias para todos os gostos e feitios, ideias bizarras (porque segundo dizem são as únicas que valem a pena) ideias geniais... vale a pena vasculhar o site. com certeza encontrarão uma apresentação que vos agrade (ou desagrade), que vos surpreenda, que vos inspire, que vos faça rir... Ideias não ocupam espaço, mas podem contagiar. Se têm medo de ser contagiados é melhor evitarem o site... mas eu continuo a pensar: Um local onde se partilham ideias?!? ora aí está uma ideia genial!

UM EXEMPLO:

Esta apresentação, para além de ser feita por um orador verdadeiramente cativante, é sobre educação: um tema tão banal (porque usual, sempre presente e sempre discutido) como relevante (porque determina o nosso desenvolvimento individual e colectivo). De uma forma divertida e despretensiosa Ken Robinson coloca questões pertinentes... daquelas que fazem pensar e que podem despertar outras questões e novas ideias... queiramos ou não é uma área em que estamos todos envolvidos... somos todos fruto de uma certa educação e acabamos, mais tarde ou mais cedo, de uma maneira ou de outra, por estar envolvidos na educação de outros... estará realmente a educação a matar a criatividade? o que aprendemos e o que desaprendemos? o que mudar e como mudar para melhor?

23 julho, 2010

definição


revelar - associação das acções rever e dar, reavaliar e expor, ou expor e depois rever, segundo a ordem que se quiser. Mostrar o até então escondido, secreto, invisível, explicar o oculto, misterioso, indecifrável. Elucidar ou elucidar-se, dar ou dar-se.


revelação - acção que se revela, mostra, expõe... pode ser uma acção muito parada (como uma imagem)... ou até uma inacção (como uma ausência)... o que importa é que o acto de exposição se explique a si próprio.


revelação


(era) segredo


eu que nunca sei dizer o que sinto (mais depressa fujo, mais depressa minto) e detesto que me vejam chorar (mais depressa coro, mais depressa finjo ter um cisco no olho ou uma alergia ao oxigénio do ar) comovo-me em segredo, por tudo e por nada, a toda a hora, em qualquer lugar.


(e ainda é)


19 julho, 2010

B Fachada - O Desamor


e por falar em canções (mas agora canções a sério) aqui fica o B-Fachada, despretensioso e arejado, tradicional e inovador, descontraído e corrosivo... Para quem não conhece vale a pena parar e escutar, nem que seja para não gostar... parece-me que já não encontrava letras assim desde o Sérgio Godinho, ou desde o Manel Cruz.

Já agora, o novo disco "Há festa na moradia" está disponível para download gratuito em www.mbarimusica.com/. Música para agitar depois de usar, para agitar o corpo, para agitar ideias, para arejar o coração. Disco para embalar as férias e o Verão.




canção sem música


eu gosto é de ilusões:
a realidade é um balde de água fria
que me acorda às quatro e meia, cinco e pico, seis e dia
com mais fome e menos fé.

enquanto o tempo se entre-tem, se entre-tece
e o silêncio me des-ilude, me entorpece,
vou ver se escrevo, vou ver se calo,
vou ver se esquece.

(porque eu não esqueço, eu não esqueço
eu só peco, faço, parto, volto errante,
fico só e só tropeço, corto horas e distâncias
com a finita (im)precisão de um talhante)

e afinal a longa espera é sempre em vão
e as palavras que eu te gasto
são só a minha maneira
de iludir a solidão.


13 julho, 2010

Jordi Savall - yo me enamore de un ayre


Para quem não o conhece aqui fica Jordi Savall (com El Maloumi e Pedro Estevan, entre outros companheiros de viagem).

Instruções: fechar os olhos e usar a imaginação... (a música é um dos melhores meios de transporte para viajar).


Viajar...


em tempos de crise passam-se as férias em casa... mas há viagens que se podem fazer sem sair do lugar. um bom livro pode levar-nos a qualquer lugar... seja ele um livro de viagens, um romance, um livro de ficção científica ou um policial. um bom concerto pode fazer-nos viajar no espaço e no tempo, por terras estranhas, por praças e desertos, por cores e sabores até então desconhecidos, do oriente ao ocidente, das águas gélidas do norte aos quentes ritmos africanos...
e tudo isto por muito pouco dinheiro: nas bibliotecas municipais requisitam-se livros de graça; no verão há festivais de música para todos os gostos a preços para todos os bolsos.
(e se não quisermos mesmo "sair do lugar" podemos sempre viajar... na internet.)

na minha última viagem fui de Marrocos à Turquia, da Galiza à Alexandria, uma viagem no tempo e no espaço conduzida por Jordi Savall, Driss El Maloumi, Pedro Estevan e Dimitris Psonis. Para quem não esteve lá, mas gostaria de ter estado, basta esperar pela próxima visita de Jordi Savall (desta vez com os Hespèrion XXI) à Casa da Música no dia 6 de Novembro.

10 julho, 2010

Hoje


Hoje começa o Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim com nada mais nada menos do que Jordi Savall (e companhia) num concerto de Músicas antigas e Músicas do mundo que promete ser um encontro entre Oriente e Ocidente, porque na diversidade está a nossa maior riqueza e a música é sempre um meio privilegiado para o diálogo entre os povos.

O concerto de hoje está esgotado... (e eu vou estar lá :-) mas vale a pena estarem atentos ao programa e passarem por lá para ouvir boa música a preços reduzidos depois de uma boa tarde de praia (de preferência num dia em que não esteja vento e nevoeiro como) e de um banho no mar (se tiverem coragem de enfrentar a temperatura do mar da Póvoa...)



06 julho, 2010

Pérolas aos Poucos - Zé Miguel Wisnik


Hoje faço 28 anos. O ano passou por mim a correr, com a intensidade dos anos de mudança: mudança de direcção, sabor de coisas novas, mas familiares cá dentro, como aquelas pessoas que encontramos e parece que conhecemos há muito, ou aquelas que raramente vemos, mas parece que nunca saíram de perto de nós.
as escolhas são difíceis, porque abrem umas portas, mas fecham outras e nunca temos certezas absolutas. só podemos avaliá-las pelos frutos, pela luz nova que trazem à vida, pela felicidade que nos dão apesar do cansaço e das dificuldades, pela paz interior que sentimos apesar do futuro ser tão incerto como sempre foi...
os aniversários são geralmente dias em que as pessoas nos oferecem coisas (espero que poucas, porque já tenho tudo o que preciso), mas dei por mim a pensar no que terei eu oferecido às pessoas ao longo deste ano, se estive atenta ao que as pessoas precisavam de mim, se estive presente na vida das pessoas que hoje se lembraram de mim ou se andei demasiado ocupada com as minhas coisas.
que presente é que damos aos outros todos dias? não falo dos presentes embrulhados com laço e tudo, mas do dia de hoje, do tempo presente, da presença que temos no tempo presente das pessoas, do espaço-tempo que ocupamos, roubamos, oferecemos e de como o fazemos.
lembrei-me de uma canção que descobri há pouco tempo e que gosto muito: "Pérolas aos poucos". Será que damos sempre pérolas aos outros, ou seja, sempre o melhor de nós? Será que sentimos que as pérolas que damos se perdem? Eu acho que aquilo que dou é sempre muito pouco, vem do pouco que eu sou, mas acredito que nada daquilo que se dá, nada daquilo que se partilha se perde. só se perdem as pérolas que guardamos para nós e não são úteis a ninguém.






05 julho, 2010

o encontro

quando nos aproximámos ficamos mais vulneráveis. subitamente o que outro diz ou faz pode ferir-nos em lugares até ali intocáveis. e pode até fazê-lo sem intenção, mas a dor não é menor por isso. por outro lado, se nos fecharmos para evitar a dor evitámos também todas as alegrias e surpresas do encontro. toda a luz e toda a sombra. tudo o que de bom e mau se aprende sobre os outros e sobre nós. evitar sentir é evitar viver. evitar viver é evitar ser. somos aquilo que somos com os outros. somos aquilo que somos sem os outros. somos aquilo que somos para os outros. somos aquilo que os outros são em nós. não podemos evitá-los sem nos evitarmos a nós mesmos. como explicam Daniel Faria e Rainer Maria Rilke para se ser grande há que ser frágil (quando digo grande entenda-se inteiro, íntegro, verdadeiro, belo).


A tua pequenez é enorme.
Nada te pode vencer.
Não recuses nenhum dos teus limites, só eles dizem a grandeza do que tens.

Daniel Faria



Entrega sempre a tua beleza
sem cálculo, sem palavras.
Calas-te. E ela diz por ti: eu sou.
E com mil sentidos chega,
chega finalmente a cada um.

Rainer Maria Rilke,
in “O Livro das Imagens"


29 junho, 2010

"Eu sou o amor"



um filme que é um lugar fora do tempo. um espaço que se abre sobre o silêncio. também (mas não só) porque a banda sonora e o silêncio se conjugam na perfeição, como raramente se vê. raramente se vê o silêncio tão bem filmado.
Tilda Swinton é espantosa na contensão, no espanto, no abandono de certos gestos, e é impossível não respirar a sua personagem na sua viagem caleidoscópica, viagem interior vista de fora para dentro e de dentro para fora.
todo o filme vive desse estado de contensão-explosão permanente, que atravessa a personagem da realidade aos sonhos, da rotina à acção. filme em câmara lenta prestes a ruir, como se a beleza não pudesse existir mais do que alguns instantes, a cor sobre o branco, a luz sobre a pele, a ordem sobre o caos, o silêncio, o silêncio, o silêncio. no fim o silêncio.




imagem retirada daqui


Pensamento II


a verdade mais dolorosa é melhor que a mentira mais piedosa.


Pensamento I


às vezes enganámo-nos a nós próprios.
e no fundo sabemos que estamos a enganar-nos.
mas queríamos tanto estar enganados.
(ou seja, não estar enganados).


21 junho, 2010

quase...

depois de três semanas sem parar, tempo para arrumar...




o quarto.



(e a cabeça)




e também tempo para ler,
tempo para estudar,
tempo para parar,
tempo para sair,
tempo para...
descansar!



10 junho, 2010

sem título

na fronteira
de todos os pensamentos nenhum.
vazio, imóvel, frio,
em cada palavra,
em cada gesto te desafio.
toque, sopro, espaço,
em cada dia me deito,
em cada hora me esqueço,
escondo, minto, nego,
corro, fujo, faço.

07 junho, 2010

Conjugar o verbo acolher


é bom ter amigos. pessoas com quem se está bem, com se pode ser quem se é... às vezes mostramos o que não somos para não mostrarmos o que somos e isso deixa-nos sempre menores, insatisfeitos, porque a felicidade está na integridade, em sermos nós em todas as circunstâncias por mais chato ou difícil que isso às vezes pareça.
é bom abrir o coração a quem chega, sem falsas expectativas, respeitando a verdade do outro e a nossa própria verdade, percebendo que a felicidade está mais em acolher do que em receber. são tantas as vezes em que nos aproximamos ansiosos por receber, angustiados por concretizar os nossos desejos e os nossos planos independentemente da vontade e da situação do outro.
lá no fundo, precisamos todos, todos os dias, de nos sentirmos aceites naquilo que somos, não mais, nem menos, inteiros, com as nossas qualidades e defeitos. Se começássemos a fazê-lo hoje com as pessoas que conhecemos ou que encontramos no caminho a vida não seria diferente?

Conjugar o verbo estar


às vezes ficamos tão preocupados com o não cumprimento dos nossos planos que não aproveitamos o momento, nem as pessoas que temos ao nosso lado.
depois o dia passa, a noite vem, passa outro dia e outra noite e com o passar do tempo as coisas já não parecem tão terríveis, porque não o são de facto.
é importante relativizar e rirmo-nos de nós próprias, da nossa impaciência, da nossa urgência, quando aquilo que podemos de facto controlar à nossa volta é ínfimo...

27 maio, 2010

depois da tarde


palavras suspensas na garganta
por um fio invisível, rente à língua,
à míngua de água. fome.
palavras suspensas no ar
como frutos em queda entre o sonho e o chão,
Palavras suspensas no verbo
cair. [dizer, silenciar, mudar, partir]
palavras suspensas na vontade:
[medo] de te [ser]
palavras suspensas nas mentiras que tecemos.
viscosas. mãos. fundo.


24 maio, 2010

a tarde


a tua pele de sal.
a tua boca de mar.
o teu corpo de areia e de sol.


a tua boca de sal.
a tua boca de sal.
a tua boca de sal.


22 maio, 2010

leis da física



o calor dilata os corpos.


o calor dilata os dias...





16 maio, 2010

espera(r)


esperar irrita. esperar custa. às vezes até dói. às vezes parece inglório, um desperdício de tempo, parece sinónimo de estar parado... mas não é. esperar é respeitar o tempo dos outros. esperar é respeitar o nosso próprio tempo. esperar é respeitar o tempo da vida, que nem sempre coincide com o nosso. é um óptimo exercício para se descobrir o que se quer, porque os desejos não aguentam esperar e vão caindo de maduros (ou de verdes: há desejos que nunca chegam a amadurecer, nem o merecem) até sobrarem só os desejos que darão bons frutos, desejos construtivos que fazem parte do que se quer e não daquilo que apetece e que está sempre a mudar.

esperar é a capacidade dos que ainda são capazes de viver com esperança, dos que ainda são capazes de acreditar no mundo, nas pessoas, na beleza, na verdade, na justiça,...

esperar está para a acção como o silêncio para a música (ou para a palavra) e já se sabe que não há boa música sem silêncio.


20 abril, 2010


silêncio.
pudesse calar-te às vezes,
ou fazer-te falar,
quando quero,
quando expiro,
quando não sei dizer-te
que preciso.
(nunca sei dizer-te nada).



espera.
dos dias roubados
ao silêncio.
de esperança perdida
na azáfama dos dias roubados
ao silêncio.
estas brancas palavras de esperança perdida
na azáfama dos dias roubados
ao silêncio.



foz.
do outro lado do mar.
do outro lado do rio.
do outro lado de nós.


19 março, 2010

Espera


as contrariedades testam a persistência e fortalecem o espírito?


ah! então é isso. já me sinto mais musculosa.



29 janeiro, 2010

Cinzas



Estes são os dias brancos
em que me esqueço
e o sal queima à nascença o teu desejo
filigrana de cinzas nos meus dedos.

Não era tarde
se viesses perder-me agora
e aos teus passos ruíssem as paredes
e o vento frio por dentro me habitasse.

Não era tarde, era a hora
tão esperada e por isso já esquecida,
de quem sempre espera
e nunca se demora.

Se tu soubesses (se o saber bastasse)
as nuvens que me enchem os pulmões
e que de respirar meu corpo amadurece
e cai desamparado nos umbrais.


04 janeiro, 2010

às vezes

às vezes faz-me falta ser conhecida.
para não ter que ser outra coisa qualquer senão ser.